Metalúrgico tem 4 dedos esmagados na Usimatic
Calandra sem proteção esmaga dedos de operador. Rapaz de 20 anos trabalhava como temporário para agência e cumpria a quinta hora extra quando ocorreu o acidente.
O operador de máquinas João Roque Correia Neto, de 20 anos, teve quatro dedos da mão esquerda esmagados quando operava uma calandra sem proteção (sensor) na Usimatic, em São Bernardo, no último dia 5. Apesar de imediatamente levado por companheiros ao hospital, João terá amputados os dedos anular e médio nesta semana.
O trabalhador era contratado pela Premium Serviços Temporários Terceirizados e estava apenas há dois meses na Usimatic. Seu contrato venceria dia 12. Casado, pai de um filho de três meses e com o aluguel atrasado, o metalúrgico reclama que não recebe qualquer ajuda da empresa ou da agência sequer para comprar remédio.
“O ferimento dói pra caramba e piora com todo esse frio. Eles passaram uns comprimidos mais fortes, mas não tenho dinheiro para comprar”, reclama João, que recebe pouco mais de R$ 500,00 e está gastando cerca de R$ 400,00 em medicamentos.
“Se o pessoal na fábrica não fizesse uma vaquinha e meu pai não ajudasse no aluguel não sei como seria”, conta. “A empresa e agência ficam me jogando de um lado para outro sem resolver nada”, protesta ele.
Sobre a perda dos dedos, João revela que está tentando se conformar. “Sei que na hora vou ficar muito abalado. Não tem dinheiro no mundo que pague. Ainda mais agora, que estou no começo da carreira”, lamenta.
O diretor do Sindicato, José Paulo Nogueira, disse que a luta agora é para garantir a João todos os direitos previstos na convenção coletiva e na legislação. “A fábrica tem de assumir suas responsabilidades”, avisa.
Acidente poderia ter sido evitado
“Era previsível que este acidente com o João iria acontecer. O pior é que ele poderia ter sido evitado”. O autor da denúncia é Clayton Luciano, do CSE na Usimatic. Ele conta que quando a máquina foi instalada, a empresa foi informada pela CIPA que a falta do sensor poderia provocar algum acidente.
“O problema é que a Usimatic é omissa na questão da segurança do trabalhador, eles só querem produção”, prossegue Clayton. Ele mesmo perdeu quatro falanges de uma mão em uma prensa. Só depois do acidente a empresa trocou as máquinas. “O técnico de segurança é sobrinho do patrão e só faz o que a empresa manda, nunca escuta o cipeiro”, diz o membro do CSE.
Outra crítica é a jornada absurdamente longa que os encarregados obrigam os trabalhadores a cumprir. “Eles ameaçam com demissão quem não fizer horas extras. O acidente de agora ocorreu por esse excesso de pressão”, afirma Clayton.
João teve os dedos esmagados às 3h30 da manhã, quando seu horário é das 13h40 às 22h. Mesmo assim estava sozinho, aumentando o estresse da longa jornada. Quando esticou a mão para pegar a peça, encostou no cilindro da calandra. A máquina puxou sua mão e triturou os dedos.
Se a calandra tivesse um sensor funcionando como deveria, o acidente com o rapaz não teria acontecido.