Metalúrgicos defendem contrapartidas salariais no incentivo fiscal a montadoras

Senado vota redução de impostos para indústria automobilística que se instalar no Norte, Nordeste e Centro-Oeste

 

Rossana Lana / SMABC

Na opinião do secretário-geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), João Cayres (foto), a Medida Provisória (MP) 512/10, que visa a conceder incentivos fiscais para o desenvolvimento da indústria automobilística nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, deve contemplar também a questão salarial.

O texto da MP foi aprovado na Câmara na semana passada e tem previsão para votação no Senado nesta quarta-feira (27). O líder governista, Romero Jucá (PMDB-RR), declarou na semana passada que pode haver acordo para a aprovação da MP, relatada pelo senador Humberto Costa (PT-PE). Apesar da afirmação, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) declarou que não foi procurado para acordos e que não tem conhecimento sobre o texto, que será examinado como o Projeto de Lei de Conversão (PLV) 8/11.

Segundo Cayres, um dispositivo para redução da diferença de salários teria de ser criado. “Não somos contra a valorização ou a diversificação da indústria automotiva ou qualquer outro tipo de indústria. A única preocupação que a gente tem é de que não há contrapartidas”, critica. “Normalmente uma empresa que vai para estas regiões paga um salário bem menor e não leva em conta o custo de vida”, pontua.

O sindicalista cita um estudo a respeito da remuneração realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a pedido da confederação. “Nas 17 cidades onde tem montadoras instaladas, por incrível que pareça, paga-se menos onde o custo de vida é maior”, alerta.

Um dos exemplos é a fábrica de caminhões pesados Iveco, apontada como responsável pela menor média salarial para quem trabalha na produção – patamar bem inferior ao da região do ABC paulista. “Essa é a nossa preocupação. Eu acho que o governo deveria criar uma contrapartida para que não houvesse tamanha discrepância em termos de salários e benefícios em relação às empresas. Elas já têm incentivo fiscal e, além disso, têm competitividade”, afirma Cayres.

No ano passado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a MP 512, em razão do crescimento das importações em contraste das exportações de automóveis também no setor de autopeças. Para o sindicalista, as importações não deveriam ser tratadas como fator principal da descentralização da indústria. “As importações, de fato, foram de cerca de 600 mil veículos. A maior parte (foi feita) por empresas já instaladas no Brasil, como Ford e Volkswagen”, analisa o dirigente da CNM.

Da Rede Brasil Atual