Metalúrgicos do ABC e um 2010 de muitas lutas

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre faz um balanço de 2009 - um ano que começou sob a marca da crise e acabou com o Brasil alçado à condição de exemplo mundial - e fala das expectativas e desafios para 2010

Por Sérgio Nobre*

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC retoma as suas atividades nesta terça-feira (12/01) já na rota de novas e importantes conquistas para a categoria neste 2010, como a garantia de que o trabalhador terá um dia de trabalho abonado para formação no sindicato. É só o começo de um ano promissor. Crescemos no presente com as lições do passo e 2009 nos ensinou muito. Foi um ano que começou com o pesadelo das demissões da crise e um filme a ser feito e terminou com a realidade da retomada do crescimento econômico e um filme bem feito sobre a história de um homem que, ao teimar, transformou seu sonho em realidade e virou presidente da República. Como nós, metalúrgicos do ABC, herdamos de Lula não só o sindicato – um dos palcos do filme -, mas também a teimosia, poderemos comemorar um 2009 positivo. Mais uma vez, a classe trabalhadora provou que, unida em torno de sindicatos e centrais sérios e combativos, não só preservou seus empregos como garantiu que a roda da economia seguisse girando.

A crise econômica internacional não imobilizou a categoria. Ao contrário: lançou os metalúrgicos em mais uma luta. Fomos a Brasília conversar com o presidente Lula e de lá trazer a ideia, transformada em realidade, de um seminário para discutir soluções à crise no ABC. Colocamos milhares de trabalhadores nas ruas para denunciar empresas que se aproveitaram do momento para demitir sem motivo; fomos às autoridades, aos parlamentos à Paulista denunciar a atitude covarde dos banqueiros que esconderam o crédito da população; fomos protagonistas nas reuniões tripartites que deliberaram pela desoneração tributária do setor automotivo.

Protestamos mas, principalmente, negociamos. Fábrica por fábrica, pela força das palavras ou das manifestações, conquistamos acordos que evitaram demissões em massa em nossa base. Empregamos todos os mecanismos de preservação de emprego – férias coletivas e remuneradas, banco de horas, redução de jornada, lay off. Quando não fomos ouvidos, fomos respeitados em nossas manifestações e paralisações.

Lá fora, a crise foi bem mais arrasadora e o desemprego também. Aqui, as medidas adotadas pelo governo federal – redução do IPI, dos juros e aumento do crédito – incentivaram o consumo e aqueceram o mercado interno. Somem-se a essa iniciativa os mais de 20 milhões de brasileiros que passaram a compor a classe média nas gestões Lula e teremos a explicação para este cenário positivo, que alçou o Brasil ao à condição de país mais promissor dos BRIC (os emergentes Brasil, Rússia, Índia e China).

Essa classe média que, pela primeira vez, pode comprar seu carro zero quilômetro, não caiu do céu, mas sim resultou da recuperação do poder de compra dos salários e do aumento de postos formais de trabalho, aliados a programas de transferência de renda e sucessivos aumentos reais do salário mínimo. Desde o início da crise, no final de 2008, eu afirmava que essa classe média e o incentivo ao consumo interno seriam o nosso passaporte para sair da crise. E foram.

DE VOLTA AOS CEM MIL

Não há como negar. As demissões também aconteceram na nossa base, mas em escala bem menor que no restante do País, por conta da ação do movimento sindical. Em muitos casos, os cortes foram conseqüência do no desespero e em desrespeito ao trabalhador, várias empresas demitiram em dezembro de 2008, para três meses depois chamar de volta os demitidos.

O segundo semestre já foi de recuperação e contratações no ABC – só nas montadoras mais de 2000 trabalhadores tiveram suas carteiras assinadas. No primeiro trimestre de 2010, os metalúrgicos do ABC poderão comemorar novamente a marca dos 100 mil trabalhadores na base. Um feito para uma categoria que foi perseguida e dizimada durante os governos neoliberais de Collor e FHC, quando chegou a ter menos de 79 mil trabalhadores na categoria.

Todos os índices econômicos apontam para um 2010 de crescimento econômico, de novos recordes de produção e venda e de geração de empregos (1,3 milhão este ano) e oportunidades. Em 2009, foram produzidos 3,18 milhões de veículos, uma marca impressionante para um ano que começou marcado pela crise. Para os metalúrgicos do ABC, será um ano também para colocar em prática uma das maiores conquistas da categoria dos últimos tempos: o direito de o trabalhador ser liberado um dia por ano (abonado) para formação no Sindicato.

Direito que foi conquistado na mesa de negociação durante a campanha salarial de 2009, que também obteve os melhores resultados deste ano, porque, além dos ganhos em salário, abono e cláusulas sociais, preservou a principal marca dos metalúrgicos do ABC: união e solidariedade.

Mas reajustes decididos judicialmente e disparidades salariais em âmbitos estadual e nacional provam que, o nosso sindicato é uma ilha de exceção e que o movimento sindical brasileiro ainda precisa trabalhar duro pela real unicidade. A redução da jornada para 40 horas – uma realidade na nossa base – ainda tem de ser aprovada no Congresso para vigorar em todo o território brasileiro, a emenda 158 da OIT segue em banho-maria. O excessivo número de sindicatos ainda acaba com o tecido sindical brasileiro, já esgarçado por este mal que é o imposto sindical. É preciso por fim a ele. Também é urgente acabar com o monopólio da representação sindical e garantir ao trabalhador o direito de escolha livre do sindicato que ele quer que o represente.

 

Sérgio Nobre é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC