Metalúrgicos do ABC participam de audiência na Comissão de Direitos Humanos que aponta novas ações para o caso Ford
Na tarde da última quarta-feira (3), o presidente da IndustriALL-Brasil, Aroaldo Oliveira da Silva, o diretor administrativo do Sindicato, Wellington Messias Damasceno, e o diretor executivo, Carlos Caramelo, participaram de uma audiência na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, que elencou novas ações para o caso Ford.
A sessão, que ocorreu de forma virtual, foi presidida pelo deputado federal Helder Salomão (PT-ES) e contou com a presença de deputados, dirigentes sindicais, representantes do Ministério Público do Trabalho e especialistas nas áreas de economia e indústria.
“A decisão da Ford não é simplesmente de uma empresa. Ela [Ford] está num bojo de decisões que de certo modo o atual governo incentivou. Há uma clara ausência de política industrial no país e uma implosão do mercado interno. E estamos hoje em um momento de reorganização da estratégia global do conjunto das montadoras no mundo”, ressaltou Fausto Augusto Jr., coordenador-técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).
“Não estamos lidando com uma questão trabalhista, de pagamento de multas rescisórias, vai muito além disso. Estamos lidando com uma questão sistêmica”, afirmou o procurador-geral do Trabalho, Alberto Balazeiro.
O conjunto de ações destacadas durante a reunião envolve o acionamento de organismos internacionais por conta da violação de normas trabalhistas, a apresentação de um projeto de lei de nacionalização da indústria, a retomada do programa Inovar-Auto e a criação de mecanismos de reparação aos trabalhadores, caso o fechamento da Ford no Brasil seja consumado.
“Temos percebido neste momento um modelo muito semelhante ao que a Ford fez aqui no ABC. O anúncio chama atenção e transformou-se em um problema nacional, pois temos na cadeia automotiva centenas de empresas que acabam também reduzindo o seu quadro de trabalhadores, seu mix de produção e/ou encerrando suas atividades. Com isso, muitos pais e mães de família acabam perdendo seu emprego. Isso no ABC foi um duro golpe com impactos também na região metropolitana de São Paulo”, resgatou Damasceno.
Os participantes da audiência virtual consideraram que o fechamento viola normas internacionais estabelecidas por organismos como a ONU (Organização das Nações Unidas), a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho).
“A dispensa coletiva extravasa em muito os muros de uma empresa. Traz um lastro destrutivo de mais de 120 mil postos de trabalho. Vamos fazer valer as normas internacionais de direitos humanos e da OIT”, disse o procurador Jefferson Luiz Maciel Rodrigues, responsável pelo Grupo Especial de Atuação Finalística (GEAF) do Ministério Público do Trabalho.
Entre os parlamentares, a ideia é viabilizar um projeto de lei, assinado por representantes de diversos partidos, para nacionalização da Ford, com objetivo de reverter o impacto do fechamento da fábrica e o processo de desindustrialização no país.
Caberá ao deputado federal Daniel Almeida (PcdoB-BA), apresentar a proposta de criação de uma comissão geral na Câmara dos Deputados e a convocação de ministros para debater o fechamento da Ford e seus impactos no processo de desindustrialização do país. Uma outra frente de articulação, já iniciada no Congresso Nacional também deve ocorrer no sentido de buscar o fortalecimento da indústria nacional por meio da reativação do programa Inovar-Auto.
“Somos um país que se industrializou tardiamente e sofre uma desindustrialização tão cedo. O Estado tem o dever de discutir a nacionalização da Ford. A gente precisa fazer da Ford um símbolo do que não se pode fazer no Brasil”, disse Aroaldo.
Com informações do Sindmetau