Metalúrgicos do ABC recebem líderes sindicais mexicanos

Encontro aproxima Brasil e México, valoriza a trajetória de resistência de Napoleón Gómez Urrutia e reafirma a importância da unidade internacional da classe trabalhadora

Os Metalúrgicos do ABC receberam no último dia 15 na Sede, em São Bernardo, a visita de representantes do Sindicato Nacional de Trabalhadores Mineiros, Metalúrgicos, Siderúrgicos e Similares do México: o presidente Napoleón Gómez Urrutia, o tesoureiro José Ángel Hernández Puente e o assistente Aldo Rafael Morales Aguilar.

Os dirigentes mexicanos participaram de uma conversa com a direção dos Metalúrgicos do ABC, na qual foram compartilhadas experiências de luta, conquistas recentes e desafios comuns enfrentados pelos trabalhadores dos dois países. Para o presidente Moisés Selerges, o encontro foi um marco. “Esse diálogo fortalece o intercâmbio internacional e reafirmou nossos laços de solidariedade histórica. Só com integração latino-americana vamos enfrentar os ataques neoliberais e as disputas geopolíticas que atingem a classe trabalhadora. Unidos, seremos mais fortes para defender nossos direitos e avançar em conquistas”.

Para o secretário de Relações Internacionais da CNM/CUT e CSE na Mercedes, Maicon Michael, a presença de Napoleón foi simbólica. “É um momento de grande felicidade para os metalúrgicos do Brasil. Recebemos um companheiro que é referência política no México e um grande internacionalista. Sua trajetória mostra como é possível enfrentar adversidades e manter a luta viva. Foi emocionante para ele conhecer de perto o Sindicato do qual Lula foi presidente e a história de combatividade do ABC, que tanto dialoga com a luta dos mineiros no México”.

Trajetória da resistência

Napoleón Gómez Urrutia tem uma história de perseguição e resistência. Durante os governos neoliberais de Vicente Fox, Felipe Calderón e Enrique Peña Nieto, sofreu diversos ataques, incluindo três tentativas de assassinato. O estopim da perseguição foi um grave acidente em uma mina, quando trabalhadores ficaram soterrados e o governo determinou o fechamento imediato do local, impedindo o resgate. A tragédia levou o sindicato a intensificar sua organização, mas também colocou Napoleón na mira do poder.

Diante das ameaças, viveu 12 anos de exílio no Canadá, de onde seguiu liderando a categoria à distância. Durante esse período, manteve um jornal semanal para dialogar com os mineiros e denunciar os abusos patronais e governamentais. Seu retorno só foi possível com a eleição de Andrés Manuel López Obrador.

De volta ao México, Napoleón foi eleito senador e depois deputado federal, assumindo a coordenação de importantes debates trabalhistas. Entre suas conquistas estão a ampliação das férias de 15 para 30 dias, a igualdade salarial entre homens e mulheres e o reconhecimento de novos direitos trabalhistas, com mais de 160 emendas aprovadas em seis anos de atuação parlamentar.

Brasil e México

A visita também reforçou a longa trajetória de solidariedade entre os sindicatos do Brasil e do México. Já no início dos anos 2000, a CNM/CUT apoiou a criação da FESIAAAN, um sindicato independente do setor automotivo, aeroespacial, de autopeças e da borracha, articulado junto aos mineiros. Essas conexões se somam à cooperação construída nas antigas federações internacionais que deram origem à Industriall Global Union, hoje uma das principais entidades de representação trabalhista no mundo.

Segundo Maicon, a presença de Napoleón no ABC reafirma que a luta dos trabalhadores não tem fronteiras. “Nossos sindicatos sempre caminharam juntos. A integração latino-americana é fundamental diante das tensões globais e das políticas excludentes que atingem trabalhadores no Brasil e no México. Receber Napoleón em nosso Sindicato é renovar a esperança na força da classe trabalhadora unida”.