Metalúrgicos terão aula de sindicalismo, diz jornal
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada nesta segunda-feira (18), o presidente do Sindicato, Sérgio Nobre explicou o projeto de formação da categoria, que terá direito a um dia de formação por ano abonado pela empresa para conhecer o sindicato e seus direitos.
Ponto de partida da trajetória política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC arrematou um prédio -por R$ 1,2 milhão- para abrigar um curso de formação e qualificação dos seus cerca de 100 mil filiados.
Destinado a contar a história das negociações coletivas desde a década de 80 -quando o sindicato foi presidido por Lula- o curso terá início, em caráter experimental, na semana seguinte ao Carnaval.
No último acordo coletivo, com vigência de 2009 a 2011, as montadoras cederam à reivindicação do sindicato de liberação do empregado um dia por ano, sem desconto em folha, para um curso de oito horas. Cabe ao sindicato oferecer aulas e refeição.
Em 2010, o curso atenderá 120 alunos por semana, num projeto-piloto. Mas a meta fixada para daqui a cinco anos é reunir 650 trabalhadores por dia em sala de aula. Antes, o novo prédio, que abrigava um curso supletivo, deverá ser demolido para uso do terreno de 1.180 metros quadrados.
Apesar da coincidência com o calendário eleitoral, o presidente do sindicato, Sérgio Nobre, rechaça o risco de exploração política.
Além de “desmoralizar o programa”, a abordagem eleitoral seria desnecessária.
Segundo Nobre, os metalúrgicos continuariam a adorar Lula “ainda que seu governo fosse uma bosta”.
“Se Lula tem 80% de apoio no Brasil, entre os metalúrgicos tem 200%. Não precisa pedir nada para ninguém. Se dependesse dos metalúrgicos, ele seria presidente já em 1989”, argumentou Nobre, alegando que a aprovação da proposta consumiu seis anos de negociações.
Diretor do departamento de formação do sindicato, Walter de Souza explica que, inspirado no modelo canadense, o curso nasceu da constatação de que mais da metade dos metalúrgicos do ABC tem pouco mais de 30 anos e desconhece a evolução do processo de negociação com as fábricas.
Segundo Nobre, é preciso que os trabalhadores valorizem as conquistas e entendam que elas “não vieram de graça”. O curso incluirá uma comparação dos direitos dos metalúrgicos com os de outras categorias.
“Se for olhar para o Brasil, a maioria, 70% dos brasileiros, ganha até dois salários mínimos. Uma merreca”, disse Nobre, para quem uma vitória do PSDB seria um retrocesso para os movimentos sociais.
Doutora em ciências sociais e educação, a professora Kimi Tomikazi acompanhará o curso para consolidação de uma base de dados sobre a categoria metalúrgica no ABC. A pesquisa diz que contará com a participação de alunos da USP. “Essa formação viria para sensibilizar os trabalhadores sobre o quanto a negociação, que fica tão estratosférica, tem a ver com o cotidiano deles e abrir as portas para que se aproximem do sindicato”, diz Kimi.
Segundo Nobre, o sindicato ainda não tem calculado o custo de todo o programa e poderá pedir empréstimo ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a construção do prédio.
Da Folha de São Paulo