Metrô de São Paulo admite: trens abriram portas em movimento

Empresa acumula superlotação, acidentes, falhas de segurança e denúncias de corrupção. Agora, argumenta que é normal portas se abrirem antes que composições parem totalmente

A Companhia do Metropolitano de São Paulo admitiu, em nota enviada à reportagem na tarde de ontem (12), que duas composições do Metrô realmente abriram portas em movimento nos últimos dias 1º e 2. E argumentou que é “normal” as portas se abrirem antes da imobilização completa do trem.

Ocultado pela empresa, o defeito foi denunciado por RBA e Outras Palavras na última quinta-feira (7), com base no relato de funcionários e no registro de falhas da própria companhia. Por isso, o Metrô não teve como negá-las. As panes ocorreram nas estações Pedro II e Belém, na Linha 3-Vermelha, e acometeram dois trens recém-reformados pelo consórcio MTTrens. As composições pertencem à chamada frota K, recordista em problemas.

“Os dados do registrador de eventos, dispositivo que grava toda a operação dos trens, como as caixas pretas nos aviões, mostram que as portas abriram dentro da janela de segurança e dentro das características da operação normal”, destaca a nota, argumentando se tratar de algo corriqueiro no sistema. “Não houve ocorrência que oferecesse risco aos usuários da rede metroviária. As portas abrem antes da parada e imobilização completa do trem, quando a velocidade é bem reduzida.”

De acordo com o Metrô, tanto na estação Pedro II como na estação Belém a velocidade dos trens no momento da abertura das portas era de apenas 1 quilômetro por hora. Informações obtidas pela reportagem junto a funcionários da empresa, porém, mostram que, na realidade, pelo menos uma das composições trafegava a 3 km/h – o número está comprovado por um membro da equipe de manutenção que analisou o equipamento.

A diferença entre 1 km/h e 3km/h é residual, mas aponta para uma normativa da empresa que preocupa os metroviários. A nota enviada pelo Metrô atesta que a companhia aceita que portas se abram antes da frenagem completa das composições. Procurados pela reportagem, funcionários explicam que essa tolerância se estende a trens trafegando com velocidades nem tão reduzidas assim: até 6 km/h.

“Portas se abrindo com a composição na plataforma a 6 km/h não me parece nada seguro. As pessoas podem simplesmente cair”, afirma um operador, que não quis se identificar por medo de represálias. “Na verdade, se as portas se abrirem com o trem em movimento, a qualquer velocidade, pode causar acidentes. Imagina se o trem anda 20 metros com portas abertas a 6 km/h. Há riscos.”

Mas o Metrô insiste: “Essa abertura é prevista e não afeta a segurança dos passageiros”. No entanto, e apesar de supostamente não representar riscos aos usuários, as duas composições foram evacuadas nos dias 1º e 2 deste mês, logo após as falhas. E os vagões que abriram as portas acabaram “isolados” – ou seja, ficaram proibidos de receber passageiros. Então, se dirigiram ao pátio. Um deles permaneceu alguns dias retido para análise da Comissão Permanente de Segurança.

Histórico

É a primeira vez em mais de três meses que o Metrô responde a pelo menos uma das questões enviadas por RBA e Outras Palavras sobre as sucessivas panes do sistema. Desde agosto, uma série de reportagens indica a ocorrência rotineira de falhas nos trens fornecidos por empresas acusadas de formação de cartel para burlar editais de concorrência para modernização da frota e ampliação da malha metroferroviária em São Paulo. Membros da administração tucana no estado fariam parte do conluio.

Os problemas que relatamos têm atingido sobretudo composições que operam na Linha 3-Vermelha, que liga a capital de leste a oeste. Os trens pertencem à frota K, reformadas há menos de três anos pelo consórcio MTTrens. O pool empresarial é liderado pela TTrans, envolvida nas denúncias de formação de cartel. A autora das acusações é uma das multinacionais envolvidas no esquema – a alemã Siemens.

Além dos trens que abriram portas em movimento no início do mês, pertence à frota K a composição que descarrilou em 5 de agosto, nas proximidades da estação Barra Funda, na zona oeste. O vagão que saiu dos trilhos foi arrastado, provocando curto-circuitos. Também faz parte da frota K o trem que abriu portas do lado errado na estação Santa Cecília, em 2 de outubro, expondo passageiros ao risco de caírem no trilho eletrificado.

Em 27 de agosto, RBA e Outras Palavras noticiaram que o Metrô coloca em circulação as composições reformadas pela MTTrens mesmo quando estão com defeito. Diante das falhas sucessivas na frota K, essa tem sido a maneira encontrada pela companhia para atender à população em horários de pico.

Publicamos ainda um levantamento informal realizado por metroviários da Linha 3-Vermelha, que atestam: embora novos, os trens fornecidos pelas empresas do cartel apresentam quantidade de defeitos até quatro vezes maior que as composições antigas, com cerca de 30 anos de uso. Algumas chegam a registrar média de 35 problemas técnicos por dia.

Confira a íntegra da nota enviada pelo Metrô:

Em relação à matéria sobre “falhas” que teriam ocorrido em trens da Linha 3 Vermelha nos dias 1º e 2 de novembro, a Companhia do Metropolitano de São Paulo esclarece que, ao contrário do que quer fazer acreditar o texto, não houve ocorrência que oferecesse risco aos usuários da rede metroviária da cidade de São Paulo, seja em trens da frota K ou de qualquer outra frota em operação.

Os dados do registrador de eventos, dispositivo que grava toda a operação dos trens, como as caixas pretas nos aviões, mostram que as portas abriram dentro da janela de segurança e dentro das características da operação normal. As portas abrem antes da parada e imobilização completa do trem, quando a velocidade é bem reduzida. Nos dois casos, a velocidade era de 1 km/h em ritmo de parada. Essa abertura é prevista e não afeta a segurança dos passageiros. A segurança dos usuários é uma prioridade para o Metrô.

Os profissionais de manutenção do Metrô são altamente qualificados e passam por constantes capacitações e atualizações. As atividades de manutenção preventiva de trens, equipamentos e vias acontecem regularmente, conforme o Plano de Manutenção Preventiva e por meio de protocolos de procedimentos técnicos que atendem com rigor as normas nacionais e internacionais, as especificações técnicas e as recomendações de fabricantes.

É por esse motivo que o Metrô de São Paulo conquistou uma posição de referência mundial em eficiência e qualidade no transporte de passageiros sobre trilhos.

Companhia do Metropolitano– Metrô SP
Departamento de Imprensa – CMI

 

Da Rede Brasil Atual