México gasta 10% do PIB para conter violência relacionada a cartéis de drogas
O dobro do montante destinado à educação ou saúde, valor supera gastos de países em guerra; insegurança aumentou após ofensiva contra narcotráfico
O custo econômico para conter e enfrentar a violência no México foi de US$ 173 bilhões em 2013, ou 10% do PIB. Apesar de o país ter intensificado o combate a grupos de narcotraficantes, a violência tem aumentado desde 2008, como revela o estudo Índice da Paz Mundial realizado pelo Instituto de Economia e Paz (IEP). O gasto para conter a violência no país é um dos maiores do mundo e representa o dobro do que o governo investe em saúde ou educação.
Por ano, o gasto do governo mexicano equivale a US$ 1.430,00 por habitante do país, incluindo crianças. No ranking global, o México ocupa a 138ª posição e é o país que mais gasta com a violência na América Latina. O Brasil ocupa a 91ª posição e a Colômbia, a 150ª.
O montante gasto pelo governo mexicano é superior ao de países em guerra como o Iraque, onde o valor é de US$ 1.350,00 e a Síria, de US$ 160,00. Os custos indiretos dessa violência chega a US$ 143 trilhões.
O país também tem baixo nível de paz, como indica o estudo publicado na última quarta-feira (18). Isso se deve à intensificação da resposta militar ao conflito com o tráfico de drogas.
Em termos comparativos, o gasto para conter a violência no país é 2,3 vezes maior que a dívida externa do governo federal, que em abril do ano passado era de US$ 73.509 bilhões, de acordo com dados da Secretaria da Fazenda e Crédito Público. O valor supera em duas vezes a produção agropecuária, que representa 5% do PIB.
O México sofre com o crescimento da violência relacionada ao tráfico de drogas desde que o governo do então presidente Felipe Calderón (2006-2012) iniciou uma guerra contra os cartéis do narcotráfico. A iniciativa foi apoiada pelos Estados Unidos que, por meio da Iniciativa Mérida, desde 2008 fornece apoio às ações do país para supostamente combater os grupos.
Ativistas de direitos humanos mexicanos, no entanto, advertem que tais medidas, longe de acabar com a violência, reforçam a guerra de baixa intensidade, a contrainsurgência e representam um aumento dos abusos com relação aos direitos humanos pelas forças policiais e militares.
Para o IEP, em documento divulgado em 2013 especificamente sobre o caso do México, as ações governamentais levaram a um forte aumento da criminalidade devido à ramificação das organizações criminosas para outras atividades adicionais ao tráfico de drogas, como o sequestro e a extorsão.
Desde o começo das operações, mais de 50 mil pessoas foram mortas no país, muitas delas civis inocentes, sem vínculos com os cartéis. De acordo com reportagem publicada pelo jornal mexicano El Universal, as autoridades federais não investigaram 95% das mortes relacionadas com a “guerra ao narcotráfico”.
De acordo com o IEP, a proporção de homicídios que foram julgados no país diminuiu significativamente desde o começo da guerra às drogas, caindo de 28% em 2007, para 18% em 2021.
“A situação da segurança do México tornou-se um enorme ônus para a sociedade. Para as dezenas de milhares de pessoas que morreram na recente onda de violência, há centenas de milhares de familiares que choram e mais milhões de amigos, vizinhos que têm que lidar com as consequências”, diz a conclusão do relatório.
Da Rede Brasil Atual