México, ´queridinho´ do mercado, cresce menos que o Brasil em 2013
Um olhar rápido sobre o México no ano passado poderia colocar em dúvida os prognósticos mais positivos que têm sido feitos em relação à economia local. No ano passado, o país deve ter crescido apenas 1,2%, menos do que os 2,3% esperados para o Brasil, de acordo com as projeções mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI). O setor manufatureiro mexicano também deve encerrar o ano em queda, enquanto a indústria brasileira cresceu pouco, mas teve resultado positivo, de 1,2%.
No entanto, é o México um dos “queridinhos” dos mercados, dos investidores e das agências de classificação de risco neste momento, enquanto o tom em relação ao Brasil é bem mais crítico. Para economistas ouvidos pelo Valor, o México largou na frente com uma ambiciosa agenda de reformas aprovada em 2013, ao flexibilizar leis trabalhistas, subir impostos, acabar com o monopólio no setor de óleo e gás e abrir o segmento de telecomunicações para o investimento estrangeiro, entre outras medidas.
Em dezembro, a S&P elevou o rating do país para BBB+, classificação que o deixou apenas um degrau abaixo da nota A, que reúne países com “forte capacidade de honrar compromissos financeiros”. Na quarta-feira, foi a vez da Moody´s alçar o país de Baa1 para a A3, um degrau acima da S&P. Nos dois casos, as reformas foram citadas como tendo papel relevante para a mudança da nota de classificação de risco, já que, no médio prazo, devem elevar o potencial de crescimento do país para algo em torno de 4% a 5%.
Lisa Schineller, diretora de ratings soberanos para América Latina da Standard & Poor´s, avalia que as reformas aprovadas no ano passado pelo México são relevantes para o crescimento de médio e longo prazos e podem elevar o potencial de crescimento do país para algo como 4%, mais do que os 2,5% que o México cresceu, em média, na última década. Neste sentido, diz, não houve o mesmo progresso no Brasil. “A agenda de concessões é importante, mas elas estão acontecendo vagarosamente. No México, por exemplo, o custo da energia vai cair, mas no Brasil ele permanece alto e é um entrave”. A S&P colocou a nota brasileira em perspectiva negativa em junho do ano passado.
A economia brasileira cresce pouco, diz Lisa, porque tem problemas estruturais, como a falta de competitividade da economia brasileira, que inibem o crescimento num horizonte mais longo. Para 2014, por exemplo, a S&P projeta que a economia brasileira crescerá apenas 2,1%, enquanto o México vai conseguir avançar mais, com aumento previsto de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.
Lisa reconhece que a implementação das reformas no México é um desafio considerável e diz que esse fato já está embutido na perspectiva estável para o rating. “As reformas são grandes e vão fazer diferença para o país, mas os benefícios só virão no futuro”, afirma a economista, que projeta crescimento de 4% do México em 2016.
André Loés, economista-chefe do HSBC para América Latina, projeta crescimento de 4% para o México já neste ano e avalia que no médio prazo o potencial de crescimento do país, hoje um pouco acima de 3%, pode subir de 1 a 2 pontos percentuais como reflexo das medidas adotadas no ano passado. Para Loés, apesar do México ter crescido menos do que o Brasil no ano passado, as exportações para os Estados Unidos, cuja expectativa é de recuperação neste ano, devem dar impulso à economia ao longo de 2014. “As vendas externas do México têm forte correlação com a indústria americana, que não foi muito bem no primeiro semestre do ano passado, mas deve se recuperar neste ano”, diz.
Além disso, ao contrário do Brasil, o México tem déficit em conta corrente baixo, de 1,7% do PIB. “O Brasil não pode crescer muito mais porque aceleraria o déficit externo, mas o México não tem essa limitação”, afirma Loés. Para ele, a projeção de crescimento do México em 2014 pode parecer otimista, mas está em linha com o avanço do país em 2011 e 2012, quando a ajuda dos Estados Unidos era pequena.
Por último, diz o economista do HSBC, o mercado também está mais otimisma com o México por causa da comparação internacional. “Poucos emergentes saíram na frente com reformas, hoje temos apenas a China e o México. Quando há competição por investimento internacional, essa diferenciação é importante”, afirma.
Em sua avaliação, o Brasil já deu sinais de que reconhece os riscos de estar em uma situação considerada mais frágil e está procurando sinalizar um maior compromisso com a política fiscal. No entanto, a realização de eleições no fim deste ano torna improvável ajustes mais relevantes na condução da política econômica ou reformas estruturais significativas.
Já Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, diz que não está “particularmente otimista” com a possibilidade de reformas estruturais no Brasil mesmo depois de passado o pleito presidencial, porque muitas das medidas necessárias, como a reforma da Previdência, são impopulares e poderiam enfrentar resistências da sociedade.
Por outro lado, diz Shearing, o México conseguiu evitar várias das armadilhas das quais o Brasil não conseguiu escapar nos últimos anos. “O país não teve excessos na concessão de crédito nem forte valorização no mercado imobiliário, os bancos estão em boa forma e o setor manufatureiro vai bem, na esteira da melhora da economia americana”, afirma.
Apesar da confiança maior em relação ao México, o país ainda tem mostrado dificuldade para retomar o crescimento. Em novembro, o índice de atividade do país ficou estacionado em relação ao mesmo mês de 2012.
Do Valor Econômico