Mídia faz campanha contra Humala no Peru
Os dois candidatos presidenciais estão em campanha pelo segundo turno no Peru, com a maior parte dos meios de comunicação expondo abertamente sua preferência pela candidata conservadora Keiko Fujimori.
Isso se traduz em espaços na mídia impressa, radiofônica e televisiva favoráveis a Keiko e adversos ao candidato progressista Ollanta Humala, que lidera as pesquisas com diferentes margens.
O candidato do bloco Ganha Peru para a segunda rodada do 5 de junho é submetido diariamente a perguntas sobre a origem dos seus fundos de campanha ou sobre supostas incoerências e contradições do seu plano de governo.
A atitude da maioria dos meios de comunicação com Keiko é benevolente, apesar de o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) ter exigido que ela preste contas de suas despesas para o segundo turno, uma vez que a postulante não cumpriu a obrigação legal de fazê-lo.
Humala dedicou grande parte de sua campanha, nos últimos dias, a esclarecer que os recursos são nacionais e de cidadãos adeptos da sua causa e que foram justificados ante o ONPE, entidade à qual solicitou que torne públicas tais informações.
O candidato também teve que desmentir especulações sobre seu programa de governo, produto de uma avaliação constante do documento. Segundo Humala, o programa será submetido ao consenso e à legislação existente e seu plano de reformas de impacto social direto será gradual e sem sobressaltos.
Humala voltou ontem da região andina de Cajamarca, onde as pesquisas dão ligeira vantagem à sua adversária, depois de um tour no qual assegurou que pretende fazer um governo em que o país será dos peruanos, e não das corporações transnacionais.
Ao mesmo tempo, a imprensa destaca aspectos da campanha de Fujimori, como a contratação do economista neoliberal Hernando de Soto como seu assessor e publicitário, a adoção de propostas de Humala ou seu desejo de se apresentar como defensora dos pobres.
Por outro lado, a emissora de televisão América, do poderoso grupo midiático do diário El Comercio, hostil a Humala, estreou na noite passada um programa com o escandaloso apresentador direitista de TV, Jaime Bayly, que passou quase toda a hora do seu programa a atacar o candidato progressista.
Jornalistas desse grupo denunciaram as pressões para atacar com mais força Humala e apoiar Keiko Fujimori, e dois dos repórteres do Canal N, também do El Comercio, foram demitidos por se recusarem.
A Associação Nacional de Jornalistas tem relatado casos semelhantes e assinalou que as pressões a favor de Keiko se constituem como autocensura empresarial.
Neste contexto, estudantes protestaram em Lima no domingo à noite diante da emissora Panamericana contra o apoio desta a Fujimori, e exigiram maior equidade informativa na campanha atual.
Apesar da atitude da mídia contra ele, Humala prometeu que se chegar ao governo manterá um diálogo constante com a imprensa e respeitará o seu trabalho.
Ele se referiu ao pai de sua rival, Alberto Fujimori (1990-2000), ao assinalar que não deve retornar ao controle da imprensa através de subornos e ameaças, como naquele regime.
Enquanto isso, o jornal La Primera citou fontes da inteligência, segundo as quais está em curso a “Operação Manto” para “demolir” midiaticamente a campanha de Humala, com vídeos e gravações de áudio, entre outras coisas.
A versão indica que a operação envolveu um funcionário ligado à embaixada dos EUA e inclui a contratação de Bayly, pago por um fundo formado por contribuições das empresas de mineração.
O ministro do Interior, Miguel Hidalgo, negou a acusação e disse que os serviços de sua alçada não realizam atividades ilegais e continuam à margem da campanha eleitoral.
Da Prensa Latina