Milhares se unem na luta pela manutenção da Ford em São Bernardo

Trabalhadores de diversas empresas e familiares acompanharam a caminhada até o Paço. Reunião com a matriz americana está marcada para o próximo dia 7

Logo cedo ontem, sob forte chuva, os trabalhadores na Ford fizeram uma caminhada por dentro da montadora.

Além dos trabalhadores na Ford, familiares, aposentados, metalúrgicos do ABC e de todo o Estado de São Paulo, companheiros de diversas categorias, centrais sindicais, movimentos sociais e parlamentares se juntaram para prestar solidariedade à luta.

Juntos, ainda debaixo de chuva, fizeram assembleia em defesa dos empregos e contra a decisão da Ford de fechamento da fábrica.

A demonstração de resistência, unidade e luta ficou ainda mais latente com a caminhada desde a Ford, passando pelas ruas principais de São Bernardo, até o Paço Municipal, em quase três horas de passeata. Por todo o caminho, munícipes e comerciantes demonstraram apoio aos metalúrgicos do ABC.

“A prova da garra para enfrentar essa luta, que será longa, são todos os companheiros aqui unidos. Vamos reverter a decisão da Ford e apontar caminhos com inteligência. A montadora não tem o direito de destruir os nossos sonhos. E a marca não sobreviverá se não reverter a decisão”, afirmou o vice-presidente dos Metalúrgicos do ABC, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT e CSE na Ford, Paulo Cayres, o Paulão.

Na manhã de ontem, ficou confirmada a reunião dos Metalúrgicos do ABC com a matriz da Ford nos Estados Unidos para o dia 7 de março. O Sindicato quer discutir a reversão da decisão e o futuro da planta de São Bernardo.

Hoje a orientação para os trabalhadores na Ford é seguir para a fábrica, onde será realizado novo encaminhamento de luta.

O presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil, ex-presidente do Sindicato e CSE na Ford, Rafael Marques, ressaltou que essa é mais uma das grandes batalhas que os trabalhadores já enfrentam e sairão vitoriosos.

“O ato é para dar o recado de que queremos empregos e que a Ford fique. Temos que criar uma onda positiva a favor da luta e uma onda de cobrança para que a direção da empresa reverta a decisão”, defendeu.   

O coordenador-geral da representação na Ford, José Quixabeira de Anchieta, o Paraíba, reforçou o impacto que a decisão da montadora representa. “Nós trabalhadores fizemos a nossa parte com PDV e negociações de acordos. Se tem alguém culpado e que precisa ser demitido, é o presidente da Ford”, criticou.

O dirigente Adalto de Oliveira, o Sapinho, da coordenação do CSE na Ford, lembrou a luta de 1998. “Muita gente achou que o martelo estava batido sobre as 2.800 demissões. Nós lutamos e agora estamos na luta de novo. O impacto é em toda a cidade, a região e o país, na indústria, comércio e serviços. Não vamos aceitar”, concluiu.

#Ficaford

“Se eu fosse governador, pode ter certeza que os trabalhadores estariam na mesa discutindo, porque não tem nenhum assunto relacionado à Ford que o Sindicato não possa discutir. Segundo, que eu não me colocaria como corretor imobiliário da Ford, isso é rebaixar o papel do governo”, Luiz Marinho, ex-prefeito de São Bernardo e ex-presidente do Sindicato.

“Vocês não estão sozinhos porque a luta de vocês é justa. Quando o Povo Sem Medo foi lutar por moradia aqui em São Bernardo, no ano passado, a Comissão da Ford fez um rateio e chegou um caminhão de cestas-básicas para o pessoal e nós não vamos esquecer jamais disso. Vocês podem contar com esse povo de luta e sem medo!”, Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST.

“Em virtude dessa manobra desrespeitosa da Ford, interrompemos nosso Congresso para estar com vocês trazendo a solidariedade dos 14 sindicatos espalhado pelo estado de São Paulo. Estaremos juntos com os guerreiros e guerreiras na Ford o tempo que for necessário”, Luiz Carlos da Silva Dias, Luizão, presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT, FEM-CUT.

“O comércio e todos os outros segmentos da nossa sociedade têm uma perda significativa quando uma empresa como a Ford decide sair da região. A solidariedade tem que vir de todos. É triste saber que o estado de São Paulo não tem um governo à altura de representar o sentimento dos trabalhadores num momento tão difícil como esse”, Claudionor Vieira do Nascimento, coordenador da Regional Diadema.

“Nós estamos com os trabalhadores na Ford manifestando a indignação contra uma atitude covarde da Ford. A diretoria de uma empresa com 100 anos no Brasil que explorou, mandou capital para fora, dinheiro para os Estados Unidos e agora abandona e vira as costas para os trabalhadores e trabalhadoras”, Carlos Caramelo, diretor executivo do Sindicato.

“A gente conhece bem as multinacionais que se aproveitam dos trabalhadores e vão para outros lugares. Estamos não somente por solidariedade, mas ao lado de vocês porque estamos convencidos que a luta aqui também é nossa!”, Elena Lattuada, secretária-geral da Confederação Geral Italiana, CGIL Lombardia.

“Estou vendo aqui sindicatos, centrais e parlamentares porque é uma preocupação de todos nós. O fechamento da Ford em São Bernardo é um golpe contra a classe trabalhadora. A unidade é fundamental pra sairmos vitoriosos”, Douglas Izzo, presidente da CUT São Paulo.

“Essa caminhada é histórica. Neste país, tem gente que gosta de bater continência para americano e ficar de joelhos. Saibam que o Sindicato vai negociar de igual para igual nos Estados Unidos e brigar para a fábrica ficar aqui”, Moisés Selerges, diretor administrativo do Sindicato.

“Nós temos sonhos, famílias e unidade de pais, mães e filhos para fazer a luta. Sem emprego, não tem consumo, os comércios saem no prejuízo e toda economia é afetada. Não vamos permitir”, Andrea Ferreira de Sousa, coordenadora da Comissão das Metalúrgicas do ABC e secretária da Mulher na FEM-CUT.

 Da redação