Militarização da América do Sul é tema de debates
A instalação de bases militares norte-americanas em quase todos os países da
América do Sul foi um dos principais temas de ontem nos debates do Fórum Social
Mundial, que acontece em Caracas, na Venezuela. O tema também foi tratado em
encontro recente que reuniu os presidentes Lula, Hugo Chávez, da Venezuela, e
Néstor Kirchner, da Argentina.
Guerra, imperialismo e a militarização no mundo foram escolhidos como pontos
centrais para as críticas da marcha de abertura do 6º Fórum Social Mundial, na
terça-feira, em Caracas, na Venezuela.
Até domingo, quando o fórum acaba, esses temas voltam à pauta. Diante da
presença de bases militares norte-americanas instaladas em quase todos os países
sul-americanos, líderes da região retomam o debate sobre a necessidade de
fortalecer a articulação entre suas forças armadas. Essa presença também se
revela em situações como a interferência dos EUA para impedir a venda de aviões
brasileiros para a Venezuela.
Na semana passada, os presidentes Lula, Hugo Chávez, da Venezuela, e Néstor
Kirchner, da Argentina, discutiram a possível criação de uma organização na área
da defesa que poderia ser semelhante a dos países europeus, a Organização do
Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Participação social
Entre os organizadores do Fórum, são diversas as idéias sobre a postura que
deveria tomar a sociedade civil. Para o cientista social venezuelano Edgardo
Lander, um dos organizadores do Fórum, os países precisam ficar atentos para a
necessidade de defesa contra o assédio norte-americano. “A defesa dos povos
muitas vezes representa a necessidade de ter capacidade militar”, diz ele.
Na América do Sul, lembra Lander, a defesa da Amazônia é um caso típico. “Se
a Amazônia ficar sem proteção, não serão só os garimpeiros os ameados, mas serão
também os representantes dos interesses das transnacionais que ocuparão e
utilizarão o território como quiserem”, previu Lander.
Democracia e paz
Segundo o empresário brasileiro Oded Grajew, um dos idealizadores do fórum, a
idéia de ampliar as forças militares como forma de prevenir agressões deve
ser vista com reserva. Para ele, a medida mais efetiva que a sociedade civil
pode tomar para que a guerra e o imperialismo tenham cada vez menos espaço é
lutar pela defesa da democracia.
“A historia não conhece nenhum exemplo de uma guerra entre dois países
democráticos. Há sempre uma ou mais ditaduras envolvidas numa guerra. Aprofundar
a democracia é a melhor forma de lutar pela paz”, diz.
Onde estão os militares ianques
Há muito tempo a América do Sul é uma área estratégica para os EUA. A
Doutrina Monroe, aprovada pelo Congresso norte-americano em 1823, permitiu a
intervenção norte-americana em diversos países da região.
Atualmente, os EUA justificam sua presença militar no continente com o
argumento de combater o narcotráfico.
Um estudo da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro
questiona se o verdadeiro cinturão de forças em torno das fronteiras
brasileiras, particularmente na área amazônica, seria utilizado para fins
ainda não declarados.
O professor Luiz Alberto Moniz Bandeira, estudioso dos EUA, alerta que as
bases permitem a manutenção de grandes orçamentos para o Pentágono. Por causa da
indústria bélica, eles precisam gastar seus equipamentos militares para novas
encomendas. É um círculo vicioso.
Guerra Civil
O professor cita também as reservas de petróleo na região, responsáveis por
mais de 20% do que é consumido nos Estados Unidos.
“Só a Venezuela responde pela venda de 15%. De um lado querem derrubar
o presidente Hugo Chávez, de outro sabem que uma guerra civil ali levaria o