Mínimo vai garantir renda das classes D e E em 2009
O salário mínimo ficará próximo de R$ 465, valor que embute uma correção de 12% - da combinação do crescimento de 5,4% do PIB e do INPC
A massa salarial vai crescer menos, mas ainda crescerá em 2009, favorecendo as famílias de menor renda. Ancorada na política de correção do salário mínimo, o ganho das classes D e E terá um reforço percentualmente superior aos das famílias de classe média. O salário mínimo ficará próximo de R$ 465, valor que embute uma correção de 12% – combinação do crescimento de 5,4% do Produto Interno Bruto em 2007 e da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Nas contas da LCA Consultores, a massa salarial total (inclui benefícios previdenciários) vai crescer 4,9% em 2009, já descontadas a inflação medida pelo INPC. Divididas por segmento, o ganho das classes D e E será de 7,6%, enquanto o das classes AB ficará em 4%. A principal razão para o ganho maior das famílias de menor renda está no aumento real do mínimo e na menor inflação dos alimentos esperada para o próximo ano.
Este ano, nas contas da LCA, o ganho real médio do salário mínimo no ano vai ficar próximo a 2,5%, pois parte do aumento real de 4,15% concedido na data de correção do mínimo (em março, pago em abril) foi corroído pela alta nos preços dos alimentos. Para 2009, o ganho projetado para média do ano é o dobro: 5,6%, explica Fábio Romão, economista da LCA Consultores.
Aumento real
A MB Associados projeta um aumento da massa real de renda de 3,6% no próximo ano, considerando a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, que foca nas seis maiores regiões metropolitanas do país.
Fazendo projeções pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilio (PNAD), a MB calcula que as faixas de renda de dois a três salários mínimos, ganharão uma renda extra de R$ 7,2 bilhões em 2008 e vão elevar esse ganho adicional para R$ 8,8 bilhões em 2009, enquanto as famílias com renda entre cinco e dez mínimos vão incorporar uma massa real adicional de R$ 5 bilhões em 2009, valor muito inferior aos R$ 18,8 bilhões injetados por estas famílias no consumo em 2008.
O maior aumento da renda das famílias das classes D e E vai favorecer a indústria de bens de consumo popular, enquanto os produtos de maior valor agregado terão um ritmo menor de crescimento, avaliam os economistas ouvidos pelo Valor. “Bens movidos a crédito e de maior valor, como eletroeletrônicos, automóveis, móveis e produtos residenciais terão demanda menor. Esses segmentos vão crescer, mas a um ritmo menor”, observa Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Crescimento menor
No cenário de 2009 traçado pelos economistas, o ano será de um crescimento menor em relação ao de 2008 – ou seja, a economia cresce menos, mas cresce. Depois de uma evolução próxima a 5% em 2008, as projeções para o próximo ano variam entre 3% e 3,5%, com algumas projeções mais pessimistas próximas a 2% – quadro que ganha adeptos diante da forte contração atual do crédito.
Até agora, contudo, nenhum economista projeta risco de recessão para o Brasil. O trimestre atual e o primeiro de 2009, dizem eles, será de forte desaceleração, com chances dos primeiros três meses do próximo ano terem um ritmo menor que o do final de 2008, mesmo descontando os fatores sazonais. “Mas se tivermos, em algum destes trimestres, um dado negativo, ele será pontual. Não estaremos em recessão”, observa Sérgio Vale.
Nas contas da LCA Consultores, o número de pessoas ocupadas em maio deste ano era 4,6% maior que em igual período do ano passado, olhando para os dados do IBGE referentes às seis regiões metropolitanas. Esse ritmo já está desacelerando e nas contas da consultoria o total de pessoas ocupadas vai encerrar 2008 com um crescimento de 3% em relação a dezembro de 2007. Para 2009, esse ritmo vai diminuir ainda mais e ficar em 2,3%. A MB espera um percentual um pouco maior, de 2,7%, para a evolução da ocupação no próximo ano.
Menos empregos
A composição dos novos empregos em 2009, contudo, pode sofrer alguma deterioração. Isso já estava ocorrendo desde meados deste ano, observa Romão, da LCA Consultores. Depois de crescer continuamente por muitos meses até atingir uma participação recorde de 48,9% no total de ocupados nas regiões metropolitanas em maio, o emprego com carteira assinada começou a recuar e caiu nos meses seguintes até agosto e está hoje em 48,2%.
No mesmo período, as ocupações sem carteira voltaram a ganhar espaço, passando de 19,4% do total para 20,2%. “Essa inflexão nas duas tendências é sinal de pisada no freio, de perspectivas não animadoras”, avalia Romão.
Vale, da MB, observa que em 2008, a demanda por profissionais mais qualificados ajudou a puxar, de forma mais intensa, a renda das famílias de classe média. Nos anos
anteriores, a política do salário mínimo e do Bolsa Família favoreceram mais, proporcionalmente, os grupos de menor rendimento. Para 2009, essa busca por profissionais mais preparados (e, portanto, com maiores salários) deve arrefecer.
“Podemos esperar, por isso, que a classe média alta tenha ganhos relativos menores que a classe média baixa”, diz o economista-chefe da MB Associados. “Os ganhos continuam crescendo em todas as faixas, mas eles serão menores”, acrescenta.
Nas contas da MB Associados, a ocupação cresce 2,7% em 2009, nas seis regiões metropolitanas. Vale observa que no ciclo de crescimento e contração econômica
(2004 a 2006), o primeiro ano de desaceleração econômica foi acompanhado por expansão do emprego, ainda que depois o desemprego tenha aumentado.
Diante deste passado, a consultoria projeta um movimento semelhante, no qual a perda de fôlego do PIB freia novas contratações, leva a férias coletivas, mas demora para resultar em demissões generalizadas.
Do Diap