Modelo que amplia participação do povo na renda deve ser preservado
Foto: Adonis Guerra
O ex-ministro Celso Amorim analisou a solidariedade, a cooperação nas relações internacionais e a importância do Brasil no mundo durante Encontro dos Coordenadores das Redes Sindicais realizado ontem na Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, a CNM-CUT.
Celso Amorim ocupou a pasta de Relações Exteriores no governo Itamar Franco (1993-1995) e nos dois mandatos de Lula (2003-2010). Também foi ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff (2011-2015). Confira os principais temas abordados:
Trabalhadores e cenário atual
O momento é difícil para os trabalhadores em vários países do mundo desde 2008. É necessário ter muita unidade dos trabalhadores, muita visão de futuro e uma defesa muito firme do que é essencial.
Os trabalhadores nada ganharão com o aprofundamento da crise política. Precisamos sempre lutar para manter as conquistas obtidas e as melhorias indiscutíveis nos últimos 12 anos, sobretudo em termos de distribuição de renda.
Compreender que há um modelo econômico que visa uma maior participação do povo na renda nacional e esse modelo tem que ser preservado. Para isso, é preciso manter a estabilidade política.
Brasil no mundo
Antes havia pouca atividade nas relações exteriores com o pretexto de que o Brasil não deveria aparecer muito para não criar caso e também havia a incapacidade de reagir a agendas que eram colocadas, como a Alca, que era vista como inevitável.
Aumentamos a cooperação internacional com a África, fortalecemos o Mercosul e passamos a ter uma política externa ativa e altiva.
O Brasil continua a despertar um enorme interesse e a prova é que está entre os quatro ou cinco maiores receptores de investimentos estrangeiros.
Solidariedade e desenvolvimento
A cooperação internacional do País tem o princípio da solidariedade desde o governo Lula. É a defesa do interesse nacional com solidariedade. Acho que não há no mundo nenhum país como o Brasil, que faz fronteira com dez países e não tem guerra há 150 anos. Temos que manter as relações pacíficas e mutuamente proveitosas com nossos vizinhos.
O elemento da solidariedade é fundamental na política externa, principalmente com países mais pobres que podemos contribuir para o desenvolvimento e crescer juntos. A atitude do governo brasileiro também contribui para o desenvolvimento de empresas brasileiras no exterior.
O Brasil é um País grande. Não pode ficar com atitude negativista que muitas vezes vemos na mídia de que o Brasil não pode e não deve. É preciso fortalecer instrumentos como Mercosul, BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) em favor da democratização no mundo.
Mercosul
Temos avanços como as facilidades para trabalhar e as pessoas passarem com carteira de identidade entre os países. O comércio mundial multiplicou por cinco e o comércio intra-Mercosul multiplicou por 12 nos últimos anos. O Mercosul é muito importante e sempre defendo com muito afinco porque moramos aqui.
BRICS
Os BRICS começaram a ganhar mais corpo quando as discussões do G-20 não produziram as mudanças que eram esperadas, sobretudo no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional, onde os países desenvolvidos têm a maioria das cotas.
O Banco dos BRICS é um ponto muito importante na política internacional do governo Dilma e cria maior equilíbrio nas relações internacionais, na multipolaridade do mundo e nos dá alternativas. O fato de existir o Banco dos BRICS vai obrigar o Banco Mundial a repensar suas práticas.
África
Antes o Brasil não reconhecia sua origem africana. A política africana avançou na cooperação técnica, nos negócios e na cultura, além de contribuir para quebrar preconceitos aqui.
Os países mais pobres esperam muito de nós e temos muito a dar a eles. Tenho um amigo queniano que diz que para todo problema africano existe uma solução brasileira. É uma frase um pouco exagerada, mas mostra a expectativa de ajuda que os países têm.
Haiti
Desempenhamos papel importante na operação de paz no Haiti, que está entrando em sua terceira eleição depois da grande crise. A situação pode não ser perfeita, mas é muito melhor do que antes. A experiência brasileira tem sido citada para outras operações de paz.
Não é preciso ser rico para ser solidário. A experiência nos mostra o contrário. Em geral, pessoas mais pobres são mais solidárias. Não há porque o Brasil deixar de ser solidário com os países.
Grécia
A situação na Grécia é um grande teste para a União Europeia e terá influência para o mundo. Quando pensamos em integração na América do Sul, a União Europeia sempre foi modelo, como a ideia da tarifa externa comum e a liberdade de movimento entre os países.
Caças suecos
A decisão da compra dos jatos foi correta e a transferência de tecnologia permite a participação de empresas brasileiras, inclusive de São Bernardo. O Brasil não pode ser a sétima economia do mundo, com os recursos de água, energia e biodiversidade que tem, e estar totalmente vunerável. A indústria de Defesa é extremamente importante para o desenvolvimento de tecnologias avançadas e de todo o País.
Da Redação.