Montadora estima investir R$ 13,8 bi em inovações

As metas de desenvolvimento tecnológico e engenharia colocadas pelo novo regime automotivo devem levar a investimentos de pelo menos R$ 13,8 bilhões na indústria automobilística, conforme cálculos da Anfavea, a entidade que abriga as montadoras instaladas no país.

O regulamento do programa, divulgado no início do mês, estabelece níveis mínimos de dispêndios em pesquisa e desenvolvimento, engenharia e capacitação de fornecedores. Somados, eles começam em 0,65% do faturamento em 2013 e chegam a 1,5% a partir de 2015, mantendo esse patamar até o fim de sua vigência em 2017.

A conta da Anfavea considera esses percentuais mínimos, junto com a evolução da receita das montadoras nos cinco anos do novo regime – período no qual a produção de veículos, segundo estimativas, subirá de 3,47 milhões para 5,5 milhões de unidades.

Para as montadoras que conseguirem extrapolar investimentos mínimos em inovação e engenharia, o novo regime automotivo ainda concede dois pontos extras para abatimento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Nesse caso, os investimentos poderão facilmente superar a casa dos R$ 30 bilhões, conforme projetou ontem o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, durante congresso da Autodata que debateu as perspectivas para o setor em 2013.

Incluindo os aportes em novas capacidades, a entidade já havia projetado no início deste mês que o regime elevaria os investimentos das montadoras para a faixa de R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões, acima do programa atual que prevê R$ 44 bilhões até 2015.

Para Belini, o setor tem, pela primeira vez, uma política industrial que obriga as empresas a realizar investimentos para desfrutar do crescimento do mercado brasileiro, que registrou forte entrada de produtos importados em 2011.

Em geral, as montadoras receberam bem o novo regime automotivo, avaliando que as regras contidas em seu decreto devem induzir investimentos na produção local e abrir novo ciclo de desenvolvimento tecnológico no país.

Por outro lado, os fabricantes de autopeças fazem uma leitura divergente sobre os benefícios do programa, lamentando que o novo regime ainda permita a importação de insumos de países vizinhos do Mercosul, principalmente da Argentina.

Paralelamente, existe uma leitura de que o programa não resolve as dificuldades na base da indústria de componentes automotivos, onde as necessidades de pesados investimentos esbarram na deficiência financeira de pequenos fabricantes, “espremidos” nas negociações com as grandes montadoras. “O setor de autopeças, que não tinha nada, continua sem ter nada”, afirmou ontem Paulo Butori, presidente do Sindipeças, o sindicato dos fabricantes brasileiros de autopeças.

Butori esperava que o novo regime contemplasse investimentos mínimos das montadoras na cadeia de suprimento. Contudo, no fim, a capacitação dos fornecedores acabou entrando apenas como um dos elementos dentro dos dispêndios em engenharia.

Na segunda-feira, grandes sistemistas – fabricantes instalados dentro dos complexos produtivos das montadoras – lamentaram que o novo regime não ataca os velhos problemas de competitividade do setor, como os altos custos de produção.

Empresas como Bosch e Magneti Marelli avaliam que a introdução de novas tecnologias para atender às metas de eficiência energética abre perspectiva positiva no longo prazo, mas não esperam qualquer impacto no próximo ano das exigências de conteúdo local na produção de carros. “O regime não muda nada para o setor de autopeças em 2013”, disse Besaliel Botelho, presidente da Bosch, acrescentando que o programa foi formatado para atender as montadoras, e não os fabricantes de peças.

Segundo Maurício Muramoto, presidente do grupo Continental, os investimentos programados pela indústria de autopeças ainda são insuficientes para fazer frente à expansão de capacidade das montadoras. O executivo diz que, dentro da própria Continental, muitos dos investimentos antes previstos para o Brasil estão sendo levados para o México. “Sai mais barato produzir no México”, disse.

 

Do Valor Econômico