Montadoras focam em modelos lucrativos e deixam carros baratos de lado
Especialistas apontam que essa é uma prática comum entre as montadoras, que investem menos dinheiro na produção de veículos de segmentos superiores
Quando a Ford lançou o EcoSport, em 2002 (um derivado do Fiesta), o sucesso instantâneo do modelo retirou uma venda dos olhos das montadoras de automóveis. Elas poderiam, sim, criar carros exatamente iguais na estrutura, mas com desenhos diferentes, e cobrar muito mais por isso. Estava aí pavimentando o caminho percorrido até a explosão de SUVs compactos hoje no País.
Há casos em que modelos chegam a ser vendidos com mais de 30% de diferença. O Honda Fit, base do HR-V, por exemplo, custa R$ 88.200 na versão ELX, e vê seu irmão HR-V saltar para R$ 117.400 com a mesma configuração. Vale lembrar que nenhuma montadora obriga o cliente a levar o carro para casa, há uma clara demanda e predileção por este tipo de veículo.
Mas o que explica esse desejo do consumidor em pagar bem mais pelo “mesmo”? Segundo Fernando Trujillo, consultor da IHS Markit, a grande maioria dos consumidores não sabe sequer o que é uma plataforma e, por isso, não se dá conta que tudo em um carro é exatamente como no outro, salvo a carroceria. “Acabamento, suspensão, volante, motor, tudo pode ser exatamente igual, mas o comprador é levado, de fato, pelo design, pelo porte”.
O consultor esclarece que, no Brasil, os modelos hatch sempre foram campeões de vendas, então, nada mais normal que os novos SUVs sejam derivados dessas plataformas já existentes. O Brasil, tradicionalmente, é um mercado de veículos do segmento B. E até a entrada do EcoSport, só existiam SUVs grandes, pertencentes a segmentos superiores (e bem mais caros). “Ou seja, eram desejados, porém fora da realidade de preço do consumidor. A entrada de utilitários derivados de hatchs deixou o segmento acessível, e essa acessibilidade tornou o sucesso como certo”, aponta.
Do Jornal do Carro