Montadoras puxam recuperação da economia brasileira
Aumento da venda de carros incentivado pela redução do IPI serviu para reanimar o setor, primeiro a sentir a crise
A indústria automobilística foi uma das primeiras a sentir os efeitos da crise. E agora é uma das primeiras – ou a única – a mostrar sinais de recuperação. A vida está voltando ao normal nas linhas de montagem, embora muitos ainda tenham medo que a recuperação seja provisória, uma minibolha de consumo por causa da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
O corte do imposto que reduziu os preços dos automóveis entre 5% e 7%, em média, deveria durar até o fim deste mês. Mas há um movimento intenso, dentro e fora do governo, para que a medida seja prorrogada por mais três meses. Isso porque ela é vista como uma das poucas ações de combate à crise anunciadas pelo governo Lula que deram resultados efetivos até agora.
Após despencar 25% em novembro, para 177,8 mil unidades, as vendas subiram 9% em dezembro, quando o corte do IPI entrou em vigor, para 194,5 mil veículos. Em janeiro, a alta foi de 1,5% (197,5 mil) e em fevereiro de 0,9% (199,3 mil).
Diante da demanda, que até gerou fila de espera para alguns modelos, na semana passada a Volkswagen chamou sete mil funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo e cinco mil da de Taubaté para trabalho extra em três sábados de março, o primeiro deles ontem. Horas extras estavam suspensas desde o fim do ano passado.
A Fiat também convocou 12 mil funcionários para repor produção em três sábados deste mês e tem colocado a turma do segundo turno para trabalhar 45 minutos a mais diariamente. A empresa quer ampliar a produção diária de 2,6 mil para 3 mil veículos, muito perto das condições do período pré-crise, quando chegaram a ser fabricados 3,2 mil carros por dia em Betim (MG).
PALPITE
O presidente da Fiat, Cledorvino Belini, que vinha resistindo a dar palpite sobre o mercado total deste ano, agora projeta vendas de pelo menos 2,5 milhões de automóveis e comerciais leves.
Em relação a 2008, ano recorde para a indústria, significará redução de 6,4%, ainda assim muito abaixo das quedas previstas para as vendas nos Estados Unidos, Europa e Japão, que passam de 20%. Entre as empresas brasileiras, há quem projete queda de até 15%, como o presidente da GM, Jaime Ardila.
No dia 23, a Renault vai reintegrar 500 trabalhadores de um grupo de mil que está com o contrato de trabalho suspenso de janeiro a maio na fábrica do Paraná. A General Motors já havia cancelado férias coletivas de 5,2 mil trabalhadores do complexo de Gravataí (RS), entre 26 de janeiro e 8 de fevereiro.
Mesmo que o movimento de retomada ainda não signifique contratações – montadoras e autopeças devem divulgar nesta semana balanços com números negativos de vagas -, a melhora no nível produtivo é um bom sinal, principalmente para quem voltou ao trabalho e recuperou o poder de compra.
Para o diretor da Ford, Rogelio Golfarb, além da redução do IPI e da melhora na oferta de crédito para financiamento, as montadoras e as redes de concessionários têm oferecido muitos descontos para manter as vendas.
“Quando há uma crise de crédito e não se consegue dinheiro para capital de giro, é preciso girar os estoques mais rápido”, explica ele. O problema, informa, é que as empresas reduzem a capacidade de investimentos.
Do Estado de S. Paulo