Montadoras recorrem a´´puxadinhos´´ para aumentar produção
Fábricas adotam alternativas para atender à demanda por carros sem ter de investir pesado na construção de novas unidades
Espremidas no meio das cidades ou em áreas que não permitem ampliação, fábricas mais antigas recorrem a diferentes alternativas para ampliar a produção de veículos sem desembolsar fábula de dinheiro na construção de novas unidades. Com “puxadinhos”, transferência de produtos para outras unidades, ocupação de áreas antes usadas para estoque e modernização do sistema produtivo, as montadoras promovem o milagre da multiplicação dos carros. O objetivo é dar conta da demanda que, segundo projeções do setor, continuará crescendo.
A indústria brasileira tem hoje capacidade instalada para produzir 4,3 milhões de veículos, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A previsão para o ano é de 3,4 milhões. Ocorre que algumas das fábricas de produtos de maior demanda operam no limite.
A maior parcela do investimento de US$ 11,2 bilhões anunciado pelas montadoras para os próximos dois anos será gasta no desenvolvimento de novos modelos. “Temos de ganhar capacidade com pouco investimento”, afirma José Eugenio Pinheiro, vice-presidente de manufatura da General Motors.
A fábrica da GM em São Caetano do Sul (SP), construída em 1928, está engessada entre a linha do trem e a principal avenida cidade, a Goiás. “São Caetano foi concebida para produzir 36 carros por hora e hoje faz 53, no mesmo terreno, no mesmo prédio”, afirma Pinheiro. A fábrica, que produz Astra, Classic e Vectra, ficará com R$ 2 bilhões do plano de R$ 5 bilhões anunciados para o período 2008-2012.
Com quatro novos veículos previstos até 2012 no ABC paulista, a GM transferiu a produção de vários componentes para a unidade de Mogi das Cruzes (SP), antes restrita a peças para carros fora de linha. Nas próximas semanas, vai mandar parte da produção do Classic para São José dos Campos (SP), onde são feitos Corsa, Meriva, Montana, Zafira, S10 e Blazer. A sala antes usada para a estamparia vai receber nova prensa. “Se tivéssemos de fazer um prédio novo para abrigar o maquinário, teríamos de investir quase US$ 50 milhões”, calcula Pinheiro.
A Fiat, única entre as grandes montadoras que concentra a produção em uma fábrica em Betim (MG), tem apelado aos puxadinhos há algum tempo. Um deles foi construído no lugar onde funcionava um posto de combustível que abastecia carros da montadora. Também com contratações para operar 24 horas, a empresa consegue tirar da linha hoje 3,2 mil carros por dia, três vezes e meia mais do que em 1992.
Como não tem área disponível, a Fiat quer atrair fornecedores de pequenas peças para se instalarem ao redor da fábrica, informa o gerente de logística Mauricélio Faria. A área pertence à prefeitura e está em processo de desapropriação.
A Fiat tem diversos fornecedores instalados num raio de até 150 quilômetros da fábrica que fazem entregas diárias, mas já teve de paralisar a produção por causa de acidentes ou manifestações na rodovia que dá acesso ao complexo. As empresas que se instalarem na nova área ficarão a, no máximo, dois quilômetros.
A Fiat se instalou em Minas em 1976 e também já adotou a alternativa de transferir parte da produção do Siena para a Argentina. Recentemente usou a fábrica de caminhões Iveco, pertencente ao grupo, para a pintura das picapes Fiorino. Em breve, anunciará programa de investimentos para os próximos três anos, que deve incluir ampliação da capacidade produtiva.
“Encrencadas”. A Volkswagen também usa a capacidade ociosa da filial paranaense para complementar atividades da unidade Anchieta, no ABC. Carrocerias do Polo são enviadas em caminhões para serem pintadas no Paraná e retornam no mesmo esquema.
Para o diretor do Comitê de Manufatura da SAE/Brasil, Marcelo Martin, o custo de transportar peças para driblar gargalos, mesmo que atravessando Estados, é mais vantajoso do que investir em novas linhas. Ele lembra que as fábricas mais jovens, como as da GM em Gravataí (RS) e da Ford na Bahia, foram projetadas para serem ampliadas. As mais antigas “estão encrencadas”, por isso “usam de criatividade para crescer”. A filial gaúcha da GM, inaugurada há dez anos para produzir 120 mil carros, hoje faz 230 mil. Com novos investimentos, irá a 380 mil. Lá não há problema de espaço. Além disso, opera num moderno sistema produtivo com diversos fornecedores instalados no complexo.
A Volkswagen vai investir R$ 6,2 bilhões até 2014 em novos carros e em capacidade nas unidades Anchieta e Taubaté. O diretor de manufatura Marco Antonio Teixeira explica que uma das estratégias é ampliar o uso de tecnologias que permitem a simulação do veículo e da linha antes da aplicação efetiva. Com a “fábrica virtual” o grupo conseguiu reduzir em 3% a 6% o investimento na montagem final.
Renovar instalações é outra saída. Na GM de São Caetano, um prédio usado para estocagem de peças, construído há um século, dará lugar a um novo centro de montagem. Outro ganho virá da modernização do setor de fechamento, que une a carroceria. A fábrica tinha uma linha para cada modelo. Agora, uma única linha fará o fechamento de todos os carros. A unidade também ganhará 160 robôs, o dobro do que tem hoje.
Com O Estado de S. Paulo