Moradores vão à prefeitura falar com Kassab e apanham da PM

Vítimas das enhentes em São Paulo foram atacadas com cassetetes e spray de pimenta pelos policiais, apesar de acompanhadas por parlamentares; prefeito não recebeu a população

O prefeito Gilberto Kassab (DEM) colocou a Polícia Militar para receber os moradores da várzea do rio Tietê (Jardins Romano, Pantanal e outros), na Zona Leste, que foram nesta segunda-feira (8) à tarde até a porta da Prefeitura de São Paulo, no Viaduto do chá, cobrar da administração DEM/PSDB uma política habitacional para o drama que vivem desde o início de dezembro, quando as ruas e casas do bairro foram tomadas pelas águas da chuva e do transbordamento do rio.

Os moradores queriam falar com o prefeito e estavam acompanhados de parlamentares do PT (vereadores, deputados e senadores), PC do B e PSOL. A PM, porém, foi truculenta e usou cassetetes e spray de gás pimenta para obrigar os mais de 200 moradores presentes à manifestação a se posicionarem atrás de grades colocadas para isolá-los da entrada do prédio da prefeitura.

O que era para ser um protesto pacífico virou tumulto. Várias pessoas foram vítimas da violência policial. O vereador José Ferreira, o Zelão, usou o braço esquerdo para se proteger dos golpes de cassetete. Com hematomas, ele precisou enfaixar o braço.

“A PM tem que respeitar a população”, protestou Zelão. O Diretório Municipal do PT vai ingressar com uma representação na Corregedoria da PM contra o major Marcos Antônio Rangel Torres, que comandava os policiais. “Houve incompetência e insensibilidade dele em relação ao protesto”, disse o vereador José Américo.

Após a confusão, uma comissão de moradores e parlamentares foi recebida pelo secretário de Assuntos Governamentais, Antônio Carlos Malufe. Do encontrou saiu o compromisso de que os moradores serão recebidos por Kassab na próxima sexta-feira (12).

Os moradores levaram até a prefeitura garrafas com água suja da enchente e potes com cobras e ratos que afirmam ter capturado em suas casas devido à inundação. Além de casa para morar, eles querem que seja feita a limpeza do Tietê entre a barragem da Penha até o município de Itaquaquecetuba, a abertura da barragem até o fim do represamento da água do rio e indenização pelos bens materiais perdidos. Para ajudar na negociação, eles propõem uma mesa de diálogo com a participação de representantes da prefeitura, do governo estadual, Câmara Municipal, Defensoria Pública e de movimentos populares.

Além de cobrar a limpeza imediata das águas nos bairros, os moradores cobram uma solução para a falta de moradia. A maioria dos desalojados continua em escolas municipais e, com o início do ano letivo, temem não ter para onde ir.

“Meu filho foi internado com uma infecção causada pela inundação. Eu estou doente e tenho amigos com leptospirose. Aquilo ali está uma vergonha. É desumano e desesperador não ter para onde ir”, disse a enfermeira Ana Aparecida Silveira, 51, moradora da região do Jardim Pantanal há 15 anos.

“Toda vez que chove eu tenho que tirar meus filhos de lá. Minha família paga IPTU. Eu não vou sair se não tiver uma casa pra morar”, afirmou a doméstica Ana Paula Leite Rodrigues, 36.

Boletim do PT / Câmara de SP