Movimento aponta que população em situação de rua é muito maior do que a divulgada por pesquisa
Pesquisa revela aumento de 31% na população de rua no município de São Paulo.
“É evidente que está muito abaixo da realidade da cidade”, diz secretário do Movimento Nacional da População de Rua
Pesquisa divulgada ontem aponta que a população de rua na cidade de São Paulo cresceu 31% durante a pandemia, conforme levantamento do censo da população de rua. Em 2021, segundo a gestão municipal, havia 31.884 pessoas sem-teto na cidade, 7.540 a mais do que o registrado em 2019, quando eram 24.344 nessa situação.
Porém, já em 2019, o Movimento Estadual da População de Rua de São Paulo apontava que o número de pessoas sem teto na cidade mais rica do país estava subestimado. Atualmente, segundo dados do Cadastro Único, o município tem 36.730 pessoas em situação de rua cadastradas.
O secretário do Movimento, Darcy da Costa, lembra que muitos ainda não estão cadastrados e avalia que há um problema com a metodologia. Segundo ele, alguns vícios que já haviam sido apontados pela entidade em 2019 permanecem.
“Além da quantidade de pessoas no CadÚnico já ser maior do que a apontada pela pesquisa, sabemos que muitos não têm cadastro. Também há problemas em relação aos horários que eles escolhem para fazer o censo, principalmente o noturno, quando parte já está recolhida em suas barracas e não quer ser incomodada. Há também intervenções da zeladoria urbana durante o dia que espalham as pessoas”.
Ainda segundo Darcy, houve no último período uma mudança de território, já que alguns grupos escolheram lugares mais distantes por conta da pandemia. “Isso a pesquisa não consegue identificar e os números ficam subnotificados. No Jaraguá, por exemplo, há uma quantidade considerável de pessoas em situação de rua, na zona norte e em Santo Amaro também”.
A pesquisa divulgada para a mídia ainda não foi compartilhada com a sociedade civil. “Ainda não temos os dados sobre a forma como ela foi feita e quais regiões abrangeu. Vamos solicitar, estava previsto para ser aprestado à sociedade civil em fevereiro e foi antecipado para as mídias. Já contestamos em 2019 e agora é evidente que está muito abaixo da realidade da cidade”, completou.
Resultado do abandono das autoridades
O diretor executivo do Sindicato, Carlos Caramelo, destacou que a realidade da cidade de São Paulo pode também ser notada em outras partes do país. “Temos agora os números, ainda que subnotificados, da cidade de São Paulo, mas sabemos que essa realidade se replica nas principais cidades do Brasil”.
“Por aqui, andar pelas ruas nos traz ainda mais tristeza e indignação, a cada dia aumenta o número de famílias nas ruas abandonadas à própria sorte esperando um milagre ou um gesto de solidariedade. Os números mostram o que já sentíamos, alguém tinha dúvida que o resultado da irresponsabilidade e do abandono do país pelo governo federal seria esse?” questionou.
O dirigente lembrou que o governo segue sem apresentar medidas para diminuir a miséria. “Estamos empobrecendo em direitos, cidadania e dignidade, o atual governo, além de não tratar a pandemia da forma como deveria, também não apresenta nenhuma ação para proteger o povo, o emprego, melhorar a economia e combater as desigualdades sociais”.