Movimento completa 25 anos e é revivido pelas lideranças

“A Greve dos Golas Vermelhas nasceu no Bar da Rosa. Estávamos conver­sando eu, o Isawa e o (Nilton) Rossi, que falou: – Por que não fazemos uma paralisação com os ferramenteiros, o pessoal da manutenção e parte elétrica. Isso pararia a fábrica toda?

A ideia, pelas contas que nós fizemos, era do pessoal ficar em greve e quem estivesse na ativa bancar. E o nosso pessoal bancaria tudo. O primeiro paga­mento deu, o segundo quase, só não deu porque a Ford interviu, e quando foi no terceiro, a Ford suspendeu o pagamento do pessoal que não estava na greve. Foi aí que desencadeou a revolta dos trabalhadores. A reação foi aquela, eles não tinham outra. E com razão… Recebemos a solidariedade do mundo inteiro quando a PM invadiu a Ford. Foi o dia ‘D’. Eles estavam dentro e a peãozada fora, se entrassem, iam morrer policiais para caramba. Porque o peão sabia como andar lá dentro, e a polícia não sabia quais corredores iam para onde. Se entrassem na usinagem eram peças imensas, que poderiam virar armas em um conflito”, João Ferreira Passos, o Bagaço.

“Senti ter saído da fábrica e continuo sentindo porque o Sindicato é a minha casa. Eu ajudei a construir a democracia e o Sindicato que está aí hoje, bonito, lindo. E se temos um grupo de jovens que eram da minha época é porque eu contribuí para esses garotos virem para a luta, como o Rafael, o Colombo, o Barba. Eu fico muito contente em ver o trabalho que fiz com muito sacrifício e, talvez, nem seja tão reconhecido pelos companhei­ros, mas temos nesta sementinha que eu plantei os frutos que estão dentro da minha casa e, por isso, junto comigo. Quando vejo o Rafael como presidente do Sindicato, tenho cer­teza que o meu sacrifício valeu a pena”, José Arcanjo de Araújo, o Zé Preto.

OS GOLAS AZUIS NA GREVE

“Os trabalhadores na produção, os golas azuis, não faziam parte da greve e, portanto, recebiam normalmente seus pagamentos. No dia 20 de julho era o adiantamento dos horistas e a empresa decidiu suspender o pagamento. O primeiro conflito aconteceu à noite e se repetiu durante o dia por mais duas vezes. Esses conflitos não foram organizados, foi uma atitude espontânea. A Greve dos Golas Vermelhas ficou famosa e deu muita visibilidade ao pessoal da manutenção e da ferramentaria e até hoje se fala sobre isso. Os golas vermelhas têm todo o mérito de terem feito uma greve extremamente organizada, com a militância muito coesa, com a unidade do movimento muito forte, o comando com bastante controle, mas o que chama a atenção sobre a Greve, no entanto, é o que não foi feito pelos golas vermelhas. O que chamou a atenção da imprensa e do governo foi a radicalização dos trabalhadores e essa radicalização foi feita pelos golas azuis. Com todo o mérito que merecem e não pode ser tirado dos golas vermelhas”, Tsukassa Isawa, líder dos golas vermelhas.

Da Redação.