Movimento negro faz campanha para negros assumirem cor no censo
Entidades do movimento negro estão desenvolvendo a campanha “Não deixe sua cor passar em branco”, para que as pessoas afrodescendentes confirmem sua ascendência africana no censo que o IBGE está fazendo até dia 31 de outubro deste ano.
De acordo com essas entidades, a política de branqueamento imprimida no Brasil desde a escravidão faz com que os negros não assumam a herança africana. A mesma campanha foi realizada em 1991, no último censo do IBGE.
“O negro tem vergonha de ser negro”
O frei David dos Santos, da coordenação do Educafro, disse que o censo do IBGE não consegue fazer uma fotografia exata do Brasil no aspecto étnico e isso influencia diretamente na implantação das políticas afirmativas, entre outras perdas.
Qual o motivo da campanha?
Os negros têm vergonha de dizer que são negros. Quando a herança negra está visível no seu genótipo, que são as características físicas, 8 em cada 10 pessoas da comunidade afrobrasileira, em diferentes níveis, têm vergonha de dizer que é afro.
Quando ele tem a herança afro apenas no genótipo, que é a constituição genética, sem ser aparente em suas características físicas, ele não assume sua condição africana.
Por que isso?
O afrodescendente tem vergonha de ser negro por causa da ideologia do embranquecimento que quer fazer o Brasil menos negro. A sociedade criou estratégias para fazer o negro ter vergonha de ser negro.
Só os negros sofrem essa pressão?
Não, também os índios tem essa vergonha. Acontece que, se o censo é a foto do País, o resultado não será um retrato verdadeiro e eficiente que a nação mereça.
A campanha faz parte da necessidade de desmontar essa política. Isso só vai acontecer quando o trabalhador ir além da luta por direitos e conseguir discutir também a Nação. A campanha leva os brasileiros a discutir a Nação.
Quais os resultados?
Eles são imediatos. Primeiro, a maioria das universidades que adota as cotas, destina aos negros e índios o percentual com base nos dados do IBGE. Além disso, existe uma recomendação da ONU para que todos os países imprimam políticas públicas considerando o índice de cada etnia.
E para além da questão educacional?
Com o negro assumindo a sua cor, os índices tendem a ser mais próximos da realizada brasileira.
Dados mostram que os jovens afro descendente têm 2,6 vezes mais chance de morrer nas mãos da polícia do que o eurodescendente, mas o movimento negro entende que esse índice é muito maior.
Classificação étnico/racial
Uma trajetória de mais de um século
O País realiza levantamentos sistemáticos sobre as origens étnico/raciais ou culturais da população há 138 anos. Mas, eles só passaram a ser divulgados publicamente a partir da década de 80, depois de pressão do movimento negro.
1872
A Lei Rio Branco, conhecida por Lei do Ventre Livre, fez a matrícula de todos os escravos existentes no Império, com declaração de nome, sexo, estado, aptidão para o trabalho e filiação.
As classificações de cor/etnia são branco, preto, pardo a caboclo, este referente a indígenas e descendentes.
1890
Com o fim da escravidão no ano anterior, as classificações passaram para branco, preto, caboclo e mestiço.
1940
No primeiro censo realizado pelo IBGE as classificações de cor/etnia são branco, preto e amarelo. A novidade é um espaço para a resposta quando for impossível determinar a cor da pessoa. Assim, os recenseadores passam a usar classificações como caboclo, mulato, moreno, que depois foram agrupadas na classificação pardo, que passa a ser uma única denominação para o caboclo, moreno, cafuzo ou mulato.
1991
Introdução da classificação indígena, consolidando a classificação do IBGE em branco, preto, pardo, amarelo e indígena.