Mulher e Deficiência

Aos 10 anos de idade, Maria Vilma Roberto conheceu pela primeira vez a força do preconceito. O padre da igreja que ela frequentava impediu que fizesse a primeira comunhão. Como a menina não enxergava, o religioso alegou que ela não seria capaz de ler o catecismo e proibiu sua participação na cerimônia. Ela ficou chocada. Pela primeira vez foi tratada como diferente.

Hoje, 28 anos após o episódio da primeira comunhão, Vilma relembra a história como um exemplo brutal da maneira como os deficientes são tratados. “Nos encaram como diferentes quando somos pessoas como quaisquer outras. Infelizmente, o deficiente ainda é visto pela sociedade por sua limitação (visual, motora, auditiva ou outras) e não por seu potencial”.

Vilma continuou sofrendo segregações até chegar a idade adulta, mas o preconceito se acentuou depois de formada em jornalismo. A partir daí, a exclusão acontecia também porque ela é mulher. “Quando procurava trabalho e revelava minha deficiência, diziam que o emprego era para um homem. Nas vezes em que a questão da visão não era empecilho, a desculpa era que a tarefa não era para mulher. Eu passei a ser duplamente discriminada”, conta.

Vencer preconceitos
Como é uma pessoa com extraordinária força de vontade venceu os preconceitos e teve vários empregos em sua profissão. Há dois anos, porém, ficou sem trabalho. Entrou então em contato com o Departamento de Defesa dos Direitos de Cidadania da Prefeitura de Santo André, um órgão com a função de promover a inserção social de pessoas deficientes e minorias, para saber se havia lá uma bolsa de empregos. Terminou contratada pelo Centro de Referência da Pessoa com Deficiência da Prefeitura.

Bandeira de luta e vida
“Agora desenvolvo uma bandeira de luta que é uma bandeira de vida”, conta. Ela batalha para que o deficiente seja visto e tratado como um cidadão igual aos outros. Vilma dá um exemplo: a pessoa que ia de cadeira de rodas pagar algo na Prefeitura de Santo André era imediatamente encaminhada para a Defesa de Cidadania.

“Antes nem se ouvia a reclamação, o funcionário via apenas a cadeira de rodas”, lembra. “Quando isso acontece, o cidadão some e o deficiente, aquele que é considerado diferente, assume o lugar”, afirma .

Diferença
Por isto no Centro de Referência não se usam os termos portador de deficiência e portador de necessidades especiais. “Dizer necessidade especial ou portador de deficiência é o mesmo que dizer que os deficientes são diferentes das outras pessoas”, justifica.

Mudança
Vilma recomenda a quem os procura que retire familiares deficientes de instituições e os coloquem em centros de inclusão. Como resultado, pessoas com 20 anos que não sabiam escovar os dentes ou ir ao banheiro aprendem as atividades em três ou quatro meses.

“É a mudança. O deficiente deixa de ficar segregado em clínicas ou em casa para ficar ao lado de pessoas normais como ele”, relata Vilma.