Mulheres com fé na luta

Mulheres de fibra são destaque no acampamento da Fris

Luta ensina união e solidariedade

“Embalar peças é comigo
mesma. Elas saem rapidinho”.
A frase revela a expectativa
que a embaladora
Francisca Alves Feitosa nutre
de retomar às suas funções
na Fris Moldu Car, de
São Bernardo.

Ela é uma das oito mulheres
que estão no acampamento
ao lado da fábrica. O
grupo feminino chama a
atenção pela determinação
como encara a luta. Eles, os
homens, não vacilam em afirmar
que a participação delas
nessa parada é encorajadora.

“O patrão não contava
que enfrentaria nossa resistência”,
afirma a montadora
Rosilda Maria de Lima.

Traços comuns entre
quatro delas ouvidas pela
Tribuna é o elevado tempo
de trabalho na Fris. Todas
solteiras e, até o início da luta,
provedoras de suas casas, é a
primeira vez que topam com
uma luta sindical deste porte.
Hoje, os trabalhadores
completam 170 dias de luta.

Francisca trabalhou por
23 anos. Se aposentou lá.
Mesmo com o benefício da
aposentadoria afirma que foi
difícil segurar as finanças,
porque é também responsável
pelo cuidado de três sobrinhos.

A conferente Deusimara
Porto Matias também
trabalhou por 23 anos. A
Fris foi seu primeiro emprego,
levada pela mãe, Nilce,
que se aposentou na fábrica.
Lá trabalhava também
uma irmã e, ainda na
Fris, conheceu o noivo, Osvaldo
com quem planejava
se unir no final do ano.
“Ainda bem que a aposentadoria
da minha mãe segura
o aluguel”, diz.

Vera Lúcia dos Santos,
21 anos de trabalho na embalagem,
recorda das dificuldades
em casa quando seu
salário deixou de compor o
orçamento familiar. “Por sorte
minha irmã conseguiu emprego
bem quando comecei
a ficar sem salário”, diz Vera
Lúcia.

União – Traços comuns, também,
são a esperança de verem
seus direitos pagos ou o
retorno ao trabalho, e a indignação
pela situação provocada
pelo patrão.

“Como uma única pessoa
(no caso, o dono da fábrica,
José Roberto Rivello)
pode acabar com a vida de
300 famílias?”, desabafa Deusimara,
que teve de adiar por
tempo indefinido sua união
com Osvaldo.

Já Francisca e Vera não
se conformam com o fato da
Fris ter quebrado com tamanho
volume de produção.

No entanto, todas são unânimes
em acreditar na luta,
que a situação se resolvará e
que a união e companheirismo
são os maiores valores
aprendidos com essa
experiência.