Mulheres Metalúrgicas: Mesa abriu congresso nesta sexta

Debatedoras discutiram o tema "As mulheres e os espaços de poder"

O 2º Congresso das Mulheres Metalúrgicas prosseguiu hoje com a realização de mesa de debates com o tema  As mulheres e os espaços de poder. Com a mediação de Andréa Ferreira Sousa, da Comissão de Mulheres Metalúrgicas, participaram Walnice Nogueira Galvão, professora de literatura na USP, Laís Abramo, coordenadora do escritório brasileiro da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e Jandira Uehara, presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Diadema.

Jandira disse que o Congresso ocorre porque os movimentos progressistas abandonaram a ideia de que era preciso primeiro mudar a sociedade para depois tratar da questão da mulher.
“Isso deve ser comemorado, mas não podemos esquecer que as diferenças no tratamento entre homens e mulheres ainda persistem na sociedade”, prosseguiu.

Ela destacou três dimensões onde isso ocorre. A econômica, onde as mulheres recebem salários menores e são discriminadas nas promoções. A cultural, em que as mulheres são destinadas pelo sistema capitalista para cuidar da roupa, alimentação, crianças, pessoas doentes para que o lucro da produção possa ser maior. A política, onde por causa da dupla jornada as mulheres estão sub-representadas.

Apesar disso, Jandira é otimista. “Com nossas conquistas dos últimos anos uma nova sociedade já começou, não só com distribuição de renda, mas com distribuição de direitos e deveres que farão todos mais felizes”.

Indignação
Walnice iniciou sua participação com uma saudação e um alerta. “Comprimento todas as valentes executivas da tribo da jornada trabalho, casa, militância. Todas são heroinas. Mas não abram mão de se divertir, sair, dançar, namorar”.

Ela citou a fala de Jandira para dizer que ia abordar a situação da mulher em outro espaço, o imaginário. “É o espaço que abarca tudo o que acontece fora da vida material, é o espaço do sonho, da fantasia, da arte, mas é também o espaço da tevê, da telenovela e da literatura. É o espaço onde os símbolos são produzidos”.

Segundo Walnice, o imaginário e a expressão do desejo e onde as pessoas encontram uma das criações mais notáveis, a donzela guerreira. “Trata-se da mulher que se disfarça de homem para ir à guerra. Joana D´Arc é o modelo clássico. A as guerrilheiras que pegaram em armas para lutar contra a ditadura militar no Brasil são um exemplo mais contemporâneo da donzela guerreira”.

Para a professora, elas expressam o desejo de desobedecer a proibição de vestir um uniforme e lutar na guerra, ato que é permitido apenas aos homens. Assim, ao irem contra a ordem dominante elas abrem espaço para uma nova atuação do feminino.

Isto ocorreu também na categoria onde, por exemplo, a primeira greve realizada pelas trabalhadoras na Volks foi para terem o direito de usarem calças compridas.

“No imaginário também são travadas batalhas diárias”, alertou Walnice. “Por isso, prestem atenção às novelas, livros e filmes que vocês assistem, e fiquem indignadas se as mulheres não forem tradadas com dignidade nessas obras”, finalizou dirigindo-se as companheiras presentes.

História
Laís Abramo, que acompanhou o 1º Congresso das Metalúrgicas do ABC, em 1978, lembrou que o encontro foi realizado sob grande tensão, já que o País convivia com a ditadura militar.

“Na mesma época eclodiram as primeiras greves da categoria na região e o movimento logo se espalhou pelo Brasil, fazendo renascer o sindicalismo no País e dando impulso fundamental para a derrubada da ditadura”, afirmou.

Para ela, entre as inúmeras consequências importantes que aquele movimento trouxe, está o resgate da dignidade do trabalhador, dignidade que era severamente violentada durante todo o período do regime militar.

“Os avanços desde aquela época form muito, muito grandes, mas como fazer para que o trabalho das metalúrgicas nas fábricas seja uma via para o trabalho digno para todas, com efetivo acesso a um sistema de saúde e proteção social decente, igualdade de oportunidade e remuneração?”.

Para encerrar, Lais citou números do mais recente estudo da OIT sobre jornada de trabalho no Brasil, que mostra os homens fazendo 48 horas por semana, enquanto as mulheres cumprem 57,4 horas.