Música|Museu de grandes novidades

O rock brasileiro já tem história e ingredientes para compor o primeiro arquivo do gênero no Museu da Imagem e do Som.

Panis et circensis
Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias misturavam psicodelia, Beatles, música concreta, erudita e samba,
em 1966. Os Mutantes fizeram parte do movimento Tropicalista e começaram a fazer sucesso na apresentação
de Domingo no Parque, com Gilberto Gil, no 3º Festival de Música Popular Brasileira da TV Record (1967)

Por Vitor Nuzzi e Xandra Stefanel

O rock brasileiro já tem mais de meio século de história e muitos ingredientes para compor o primeiro arquivo do gênero no Museu da Imagem e do Som. E o público já dá seus pitacos

O rock nacional está prestes a virar museu. E
organizado por um fã assumido de Adoniran Barbosa. “Quando perguntaram
a Adoniran sobre samba paulista, ele respondeu: ‘Todo samba é igual, o
meu só é diferente nos versos’. Pode haver diferenças de nuances de
melodia, sotaque ou interpretação, mas a letra é por onde começam a
aparecer essas diferenças: samba da Bahia fala de Bonfim ou vatapá,
samba do Rio fala de Copacabana ou do Mangue, samba paulista fala da
Praça Clóvis ou de Jaçanã”, observa o jornalista e pesquisador Ayrton
Mugnaini Jr., curador do Arquivo do Rock Brasileiro. Ele lembra que os
sotaques valem para qualquer gênero. “Do mesmo modo, a valsa, o fox e o
rock, ritmos estrangeiros, começam a se abrasileirar quando passam a
falar de Brasil ou pelo menos em português do Brasil e de um jeito
brasileiro.”

O Arquivo do Rock é
uma idéia de velhos roqueiros com ouvidos abertos a outros sons. A
Associação Cultural Dynamite, comandada por André Luiz “Pomba” Cagni,
produtor e músico, conseguiu patrocínio da Petrobras e apoio do
Instituto Moreira Salles, para restauração de áudios, e do Museu da
Imagem e do Som (MIS), para abrigar o futuro acervo. Eles esperam ter
boa parte pronta até julho. E já estão recebendo doações e palpites dos
fãs do gênero.

A analista de
crédito Kelly Sena Lira, 19 anos, também estudante de Psicologia, não
vê a hora de conferir álbuns, LPs e quinquilharias. “Como peças usadas
por cantores e bandas, instrumentos, rascunhos de composições”, explica
a admiradora de Renato Russo. “O museu tem de ter tudo sobre ele, que é
o maior dos maiores do rock brasileiro. Também gosto muito do Raul
(Seixas), mas o Renato está acima de qualquer coisa”, diz Kelly, para
quem falta “crítica social no nosso rock”.

O
vendedor Leilson Pinheiro Varela, 20 anos, curte mais black music, mas
também ouve seus rocks, com preferência para CPM 22 e Charlie Brown Jr.
“O museu seria um point a mais pra galera. Gostaria que tivesse coisas
relacionadas ao punk”, palpita. “Show de bola”, afirma o vendedor e
body piercer Artur Batista, de 25 anos. “O rock é uma cultura, um jeito
de viver. E tem muita história pra contar, não só essas bandinhas de
hoje em dia. Rock é inovação constante. Começou lá atrás, com o blues,
e veio avançando.”

Rock-canção

Se o rock tem raízes no blues – o próprio nome da banda Rolling Stones
vem de uma canção do bluesman Muddy Waters -, quem poderia supor que no
Brasil os primeiros a cantar rock foram artistas identificados com o
samba-canção? Em 1955, na esteira do sucesso de um filme, Nora Ney
gravou Rock Around the Clock, de Bill Haley e Seus Cometas. A mesma
Nora, ironicamente, gravaria Cansei de Rock, em 1961. E quem ajudou a
trilhar os primeiros passos do rock verde-amarelo foi ninguém menos que
Cauby Peixoto, com Rock’n’Roll em Copacabana, de Miguel Gustavo, que
ganharia fama mesmo com Pra Frente, Brasil, o “hino” da seleção
brasileira de 1970.

Artur
Batista gostaria também de um museu de cera. “Com os melhores. Com o
Cazuza, por exemplo, esse maluco revolucionou o rock. Cássia Eller
ta