Na ONU, Lula chama atenção de líderes mundiais ao criticar sanções, defender soberania e o fim das guerras
Em discurso duro na abertura da 80ª Assembleia, presidente criticou sanções econômicas, defendeu o fim da fome e condenou o genocídio em Gaza, recebendo destaque da imprensa mundial

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura da 80ª Assembleia da ONU, na última terça-feira, 23, em Nova York, chamou a atenção de diversas lideranças internacionais e foi amplamente repercutido na imprensa mundial. Na ocasião, o presidente norte-americano, Donald Trump, que recentemente impôs um duro tarifaço contra exportações brasileiras em uma tentativa de afrontar a soberania nacional, fez acenos positivos a Lula e propôs uma reunião com presidente brasileiro.

O presidente dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, comentou o discurso. “Para nós, que conhecemos bem o presidente Lula, não foi nenhuma surpresa a fala do presidente. Não foi surpresa o compromisso dele em relação à democracia e à soberania do país. Não foi surpresa a postura diante do que vem acontecendo na Faixa de Gaza, da questão das mulheres, entre outros temas”.
“Ou seja, o presidente Lula nos representou. O que foi surpresa, mas que precisamos acompanhar com atenção, foi a fala do presidente dos Estados Unidos em relação a Lula. O resto do discurso do Trump, negacionista, não foi novidade”.
“Portanto, o Brasil deve seguir na linha de ter uma postura firme, que defenda o povo brasileiro e deixe claro que o Brasil é dos brasileiros. Vamos acompanhar os próximos passos, inclusive se haverá diálogo com Trump na semana que vem. Se ocorrer, será a oportunidade de Lula reafirmar que a prioridade é o interesse nacional e da classe trabalhadora”, reforçou Moisés.
Confira trechos do discurso de Lula na ONU
Democracia e Soberania
“Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há quarenta anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governos ditatoriais. (…) Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis. Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela”.
Desigualdades sociais
“Democracias sólidas vão além do ritual eleitoral. Seu vigor pressupõe a redução das desigualdades e a garantia dos direitos mais elementares: a alimentação, a segurança, o trabalho, a moradia, a educação e a saúde. A pobreza é tão inimiga da democracia quanto o extremismo. Por isso, foi com orgulho que recebemos da FAO a confirmação de que o Brasil voltou a sair do Mapa da Fome neste ano de 2025. Mas no mundo, ainda há 670 milhões de pessoas famintas. Cerca de 2,3 bilhões enfrentam insegurança alimentar. A única guerra de que todos podem sair vencedores é a que travamos contra a fome e a pobreza. Esse é o objetivo da Aliança Global que lançamos no G20, que já conta com o apoio de 103 países”.
Mulheres
“A democracia falha quando as mulheres ganham menos que os homens ou morrem pelas mãos de parceiros e familiares”.
Fim das Guerras
“No conflito na Ucrânia, todos já sabemos que não haverá solução militar. Os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo. Mas nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza. Ali, sob toneladas de escombros, estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e crianças inocentes. Ali também estão sepultados o Direito Internacional Humanitário e o mito da superioridade ética do Ocidente. Esse massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo”.
Plataformas digitais
“As plataformas digitais trazem possibilidades de nos aproximar como jamais havíamos imaginado. Mas têm sido usadas para semear intolerância, misoginia, xenofobia e desinformação. A internet não pode ser uma ‘terra sem lei’. Cabe ao poder público proteger os mais vulneráveis. Regular não é restringir a liberdade de expressão. É garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim no ambiente virtual. Ataques à regulação servem para encobrir interesses escusos e dar guarida a crimes, como fraudes, tráfico de pessoas, pedofilia e investidas contra a democracia”.
Condenação dos golpistas
“Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade. Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito. Foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas”.
Efeito estufa
“O Brasil se comprometeu a reduzir entre 59 e 67% suas emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia. Nações em desenvolvimento enfrentam a mudança do clima ao mesmo tempo em que lutam contra outros desafios. Enquanto isso, países ricos usufruem de padrão de vida obtido às custas de duzentos anos de emissões. Exigir maior ambição e maior acesso a recursos e tecnologias não é uma questão de caridade, mas de justiça”.
Mudanças climáticas
“O mundo deve muito ao regime criado pela Convenção do Clima. Mas é necessário trazer o combate à mudança do clima para o coração da ONU, para que ela tenha a atenção que merece. Um Conselho vinculado à Assembleia Geral com força e legitimidade para monitorar compromissos dará coerência à ação climática”.
Repercussão na imprensa internacional
O jornal americano The New York Times destacou o tom “duro” do discurso, ressaltando que a fala de Lula pareceu mirar diretamente no presidente Donald Trump e em suas declarações sobre suspender o processo criminal contra Jair Bolsonaro.
O britânico The Guardian noticiou que Lula “lançou uma defesa apaixonada da democracia de seu país”.
O espanhol El País pontuou: “Sem citar países ou nomes, o veterano Lula abordou a questão em seu discurso, criticando o fato de que ataques à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais se tornaram a norma”.
O argentino Clarín reforçou que Lula fez uma “forte defesa da democracia” diante do avanço do autoritarismo no mundo e destacou sua fala sobre Gaza.