Negociação salarial está mais difícil para categorias do setor de serviços

Os bons resultados nas negociações salariais de categorias tradicionais não chegam a todos. Enquanto mais de 114 mil metalúrgicos já conquistaram reajuste 4,5% superior à inflação e outros 90 mil negociam, até amanhã, acordo semelhante, os mais de 200 mil trabalhadores de telemarketing e call center do Estado de São Paulo passaram 2010 sem aumentos acima da inflação.

Num ano em que o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apurou, no primeiro semestre, a maior proporção de categorias com reajustes salariais superiores à inflação – 87% de todos os sindicatos com data-base entre janeiro e junho – o segundo semestre começou com disparidades.

“A economia está crescendo, mas nosso setor está em dificuldades. A Telefônica não atravessou um de seus melhores anos e isso se refletiu nas negociações”, diz Almir Munhoz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Telecomunicações (Sintetel), que coordenou as negociações, concluídas na semana passada, com a empresa, que terminaram com recomposição da inflação acumulada nos 12 meses terminados em setembro – 4,29%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). “Mas não se pode dizer que o reajuste real foi zero. Tivemos um desconto menor nos salários referente ao vale-refeição”, diz Munhoz.

As negociações também não estão fáceis para o Sindicato dos Comerciários de São Paulo, informa Ricardo Patah, presidente da entidade. “Reivindicamos um reajuste muito próximo aos 9% nominais conquistados pelos metalúrgicos, e as empresas ofereceram apenas 6%, isto é, 1,8% acima da inflação”, diz Patah, que volta à mesa de negociações amanhã. “Se não cederem, vamos partir para mobilizações em massa”, afirma.

O presidente do Sindicato dos Comerciários fala em “parar” o Shopping Villa-Lobos, em São Paulo. Segundo Patah, o shopping está, desde domingo, abrindo duas horas mais cedo (ao meio-dia), e fechando uma hora mais tarde (às 21 horas). “Essas três horas a mais de trabalho não foram oferecidas em troca, como folga, aos trabalhadores”, diz Patah, que representa cerca de 480 mil comerciários no Estado.

Caso não entrem em acordo, boa parte do comércio não deve funcionar no feriado de 12 de outubro. Segundo a convenção coletiva, os comerciários não são obrigados a trabalhar nos feriados caso negociações trabalhistas não tenham sido concluídas.

Já as negociações entre as montadoras e a Federação dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (FEM-CUT) avançaram ontem, segundo sindicalistas. A FEM-CUT, que representa os sindicatos dos metalúrgicos do ABC e Taubaté, em São Paulo, volta a se reunir com as empresas hoje e amanhã. A avaliação dos dirigentes sindicais é que um acordo será fechado até amanhã – expandindo aos trabalhadores das montadoras no ABC e Taubaté os 4,5% de reajuste real concedido aos metalúrgicos de autopeças, no ABC, e da GM em São Caetano e São José dos Campos (SP). Ontem, a FEM-CUT suspendeu o indicativo de greve geral.

As negociações dos petroleiros também continuam. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) deve se reunir novamente com representantes da Petrobras nesta semana.

Texto: João Villaverde/ Valor Econômico
publicado no Instituto Observatório Social