Negros recebem menos e ficam mais tempo desempregados, aponta Seade
O estudo apontou que a população negra na PEA (População Economicamente Ativa) representava um terço do total, porém a taxa de desemprego nesse grupo atingia 42,9% no ano passado
O rendimento médio da população negra na região metropolitana de São Paulo ficou em R$ 4,36 por hora no ano passado, pouco mais da metade dos rendimentos recebidos pelos não-negros (R$ 7,98). Além disso, segundo levantamento da Fundação Seade divulgado nesta terça-feira (18), a taxa de desemprego para os negros estava em 17,6% em 2007 e o índice dos não-negros era de 13,3%.
A desigualdade de salários não foi apenas observada entre as raças, mas também entre os sexos. Em 2007, os homens negros recebiam R$ 4,84 por hora enquanto os do outro grupo R$ 8,66. No caso das mulheres, o salário da negra era, em média, de R$ 3,86 enquanto os das não-negras era de R$ 6,88.
A pesquisa do Seade verificou que até em grupos mais homogêneos, como ocupados nos Serviços Domésticos, na Construção Civil ou que realizam tarefas de execução sem qualificação, os negros ainda ganham menos do que os não-negros.
O estudo apontou que a população negra na PEA (População Economicamente Ativa) representava um terço do total, porém a taxa de desemprego nesse grupo atingia 42,9% no ano passado.
“Em grande parte, esse descompasso reflete o acúmulo de carências ao longo de várias gerações, cujos efeitos levam ao comprometimento de uma formação adequada que prepare o indivíduo para o mercado de trabalho”, afirma o Seade em comunicado.
Desemprego – Apesar de ainda maior, o levantamento destaca que entre 2003 –ano em que a taxa de desemprego na região metropolitana atingiu o pico– e 2007, a redução do índice caiu 28% para os negros e 24% para os não-negros.
Porém, as desempregadas negras passam mais tempo procurando trabalho –54 semanas em média, em 2007–, enquanto os homens negros despendem menor tempo nessa busca –45 semanas. Entre os não-negros, as mulheres gastavam 49 semanas e os homens 47 no ano passado.
Os negros e pardos, segundo os últimos dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Aplicada), têm renda per capita equivalente a menos da metade da renda dos brancos. Pelos dados estatísticos, se o ritmo de avanços por parte dos negros e pardos for mantido, a igualdade racial só ocorrerá em 2029. A solução, de acordo com os especialistas, está na execução de políticas públicas sociais.
“Nós temos um claro problema de desigualdade racial que tem relação com discriminação, racismo e preconceito. Mas os dados não tocam nessas questões”, afirmou o diretor de Cooperação de Desenvolvimento do Ipea, Mário Theodoro.
Em seguida, Theodoro disse que “qualquer que seja a variável que está estudando, a população negra está sempre mais precária do que a média nacional, ou seja, a população branca. Sempre nós temos este mesmo resultado”.
IPEA – O diretor de Estudos Sociais do Ipea, Jorge Abraão, lembrou ainda que lentamente as conquistas dos negros e pardos vêm ocorrendo. “Apesar do diferencial ainda existir, os negros estão tendo mais acesso ao ensino fundamental”, afirmou. “Em geral negros, nordestinos e pobres têm uma situação [econômica] pior.”
Para Theodoro, as melhorias registradas entre os negros resultam dos ganhos que a população brasileira teve como um todo. “Um conjunto de políticas seria benéfico para que os residuais entre negros e brancos fosse erradicado´, afirmou o diretor.
Porém, os pesquisadores concluíram que há uma tendência de queda desta diferença econômica entre famílias brancas e negras, mas segundo Theodoro essa é uma análise “otimista”. De acordo com ele, é otimismo porque a população negra costuma ter núcleos familiares maiores, portanto, essa tendência pode não se efetivar.
Os dados comparativos, envolvendo os anos 2006 e 2007, mostram redução no número de negros pobres e aumento do percentual de negros e pardos ricos. Para os pesquisadores, a falta de políticas de ação afirmativa reflete diretamente nas possibilidades de mudanças.
Da Folha Online