Nível de emprego na indústria se mantém estável em janeiro
A indústria brasileira iniciou 2014 com uma estabilidade na ocupação em relação a dezembro
A Pesquisa Industrial Mensal de Empregos e Salários (Pimes), divulgada nesta terça-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que, nos últimos 12 meses, a indústria brasileira reduziu em 1,2% o quadro de funcionários, mas a folha de pagamentos aumentou 1,6% acima da inflação no período.
O descompasso entre os dois indicadores pode ser atribuído à falta de mão de obra qualificada no mercado, de acordo com avaliação do pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Rodrigo Leandro de Moura. Segundo ele, para reter profissionais especializados, a indústria tem reajustado os salários acima da média. Entre os meses de novembro a janeiro, diz, os salários na indústria cresceram, em média, 5,4% sobre o mesmo período do ano anterior, superando a média de todos os setores – 3,2% no período.
Esse movimento, na sua avaliação, se estenderá por todo o ano de 2014, motivado pela Copa do Mundo e pelas eleições. “Como o desemprego baixo é uma das bandeiras do governo Dilma Rousseff, não devemos ver mudanças neste ano”, diz o pesquisador da FGV.
Nem mesmo a estabilidade na ocupação entre dezembro e janeiro, após dois resultados mensais negativos, serve de alento ao setor, ressalta o economista do IBGE, Rodrigo Lobo. “Houve interrupção no resultado negativo de emprego industrial e no índice de número de horas pagas em janeiro, mas a média móvel trimestral continua em trajetória descendente desde abril, em resposta ao resultado industrial dos últimos meses”, diz.
Segundo Lobo, o crescimento de 2,9% na produção industrial em janeiro, frente ao mês anterior, não sinaliza propriamente um avanço, mas uma recuperação de um dezembro fraco, afetado por férias coletivas.
“Essa estabilidade no emprego na indústria pode ser um retorno dos trabalhadores que estavam em férias coletivas em dezembro. O emprego no setor só vai realmente voltar a crescer quando a produção industrial apresentar expressiva recuperação, com cenário consistente de taxas positivas”, afirma o economista do IBGE.
“Do contrário, afirma Lobo, “o empresário vai manter seu quadro de funcionários, pois é muito custoso contratar e demitir”. O número de horas trabalhadas serve como um indicador antecedente – quando começa a subir, sinaliza aumento futuro do emprego no setor industrial.
Apesar de um leve aumento de 0,1% nas horas pagas entre dezembro e janeiro, nos três meses encerrados em janeiro houve recuo de 0,1% em relação aos três meses terminados em dezembro. Desde julho a média móvel trimestral vem apresentando quedas sucessivas.
Mas nem todos os segmentos industriais têm registrado desempenho negativo. Dos 18 setores analisados pelo IBGE, 6 ampliaram seus quadros de funcionários nos 12 meses terminados em janeiro. Desses, o maior deles, alimentos e bebidas, responsável por 21% das ocupações, aumentou em 1,2% seu número de vagas no período.
“Esse setor está muito ligado ao comércio e foi bastante beneficiado pelo crescimento da alimentação fora de casa gerado pelo incremento da renda nos últimos meses”, afirma Moura. Alimentos e bebidas ajudaram a manter em alta (0,9% nos 12 meses até janeiro) o emprego no Estado de Santa Catarina e nas regiões Norte e Centro-Oeste (0,6%), que no levantamento do IBGE formam um único grupo.
A indústria extrativa também contratou no período (0,2%). Porém, Moura chama a atenção para o ajuste que pode acontecer no setor a curto e médio prazo, devido às oscilações de preços e demanda por commodities no mercado internacional. Já a indústria de calçados e couro fechou 5,6% de seus postos de trabalho nesse mesmo intervalo, com as operações sendo afetadas pelas barreiras argentinas às exportações brasileiras.
Em janeiro, o setor empregava 11,6% menos que no mesmo mês de 2013, o que explica grande parte da retração de 4,1% no emprego no Estado do Rio Grande do Sul nesse período.
Na segunda-feira, o Ministério do Trabalho informou que a indústria de transformação gerou em fevereiro 51,9 mil vagas, 55% a mais do que no mesmo mês de 2013, com o resultado sendo influenciado pelo Carnaval, que neste ano caiu em março.
Do Valor Econômico