No mês das mulheres, CNI e CNC entram com ação no Supremo para tentar impedir igualdade salarial
Lei sancionada por Lula no início do mandato, estabelece o que já está na Constituição, que funções iguais devem ter salários iguais
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A lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em julho do ano passado, fruto de uma luta histórica, que determina igualdade salarial entre homens e mulheres na mesma função corre risco no que depender de dois importantes setores patronais.
Isso porque, neste mês de março, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), entraram em conjunto com uma Ação Direita de Inconstitucionalidade, no STF (Supremo Tribunal Federal), para impedir que a lei seja cumprida.
Para a diretora executiva do Sindicato e coordenadora do Coletivo da Mulheres Metalúrgicas do ABC, Andréa de Souza, a Nega, trata-se de um ato machista praticado pela parte mais ultrapassada do empresariado brasileiro.
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“É uma afronta, um desrespeito público por parte atrasada do setor patronal que nunca aceitou os avanços da classe trabalhadora, muito menos de nós mulheres. É mais uma atitude que revela uma sociedade infelizmente ainda machista e misógina”.
A dirigente reforça que impedir esse retrocesso é um dever de toda a classe trabalhadora. “Principalmente neste mês de março, muitas empresas pregam o discurso de valorização das trabalhadoras, mas sabemos que na prática isso não ocorre e a prova disso está nessa Ação. Fazemos sempre questão de lembrar que essas pautas não são só nossas, mas também dos homens porque eles têm esposa, filha e mãe que trabalharam. Precisamos estar juntos para não permitir esse retrocesso. O que se espera do judiciário brasileiro é que se posicione favorável à lei que é um avanço, mas que ainda precisa de muita luta para ser cumprida”.
Andrea lembrou ainda que a lei corrige uma grande injustiça praticada ao longo de toda a história. “Não existe outra explicação, além do machismo, para que mulheres ganhem menos que homens exercendo as mesmas funções, pois somos tão competentes quanto. É urgente e necessário que essa lei seja colocada em prática por uma questão de justiça”.
O que estabelece a Lei
A lei estabelece que as empresas com mais de 100 trabalhadores gerem e entreguem relatórios com os valores dos salários pago. O Ministério do Trabalho e Emprego fará a análise e aplicará posteriormente as devidas sanções, se houver necessidade. Somente serão divulgados os CNPJs das empresas e o percentual da diferença salarial entre homens e mulheres com a mesma função. Ela não prevê a divulgação dos nomes dos trabalhadores e trabalhadoras, nem os valores de quanto ganham.
Nota das centrais
Em nota, as Centrais Sindicais repudiaram a atitude e reafirmaram que “a lei é fruto de uma demanda histórica não apenas do movimento feminista, mas de todo o movimento dos trabalhadores, que, por princípio, luta por igualdade e justiça em todos os aspectos da sociedade”.
O documento lembra ainda que esses representantes patronais desconsideram estudos que demonstram que o fim de práticas discriminatórias contra as mulheres no mercado de trabalho estimularia o crescimento econômico.
A CUT e a Frente das Mulheres preparam ato, ainda sem data definida, em defesa da lei.
Trâmite
Não há um prazo para a decisão do Supremo, mas o ministro relator, Alexandre de Moraes, pode impedir que a ação seja levada adiante por achar que não há sentido no pedido.