Nobel de economia está otimista sobre posição do Brasil frente à crise

Segundo ganhador do prêmio de 2001, país pode sofrer efeito limitado. Ele fez alerta sobre a consução das políticas econômica e monetária

O economista Michael Spence, prêmio Nobel em 2001, está otimista em relação à possibilidade de o Brasil sofrer efeitos limitados da crise financeira internacional. Para ele, o desempenho dos países em desenvolvimento será determinante para que a economia global passe apenas por uma forte desaceleração ou acabe entrando em um período de recessão.

“O que acontece na economia global, e eu acho que o mundo em desenvolvimento vai ser determinante, é certamente uma grande desaceleração, mas uma recessão ainda não está clara e eu espero que ela não aconteça”, disse Spence, acrescentando que as economias dos Estados Unidos e Europa já estão em um claro processo de recessão, que segundo ele deve durar pelos próximos dois ou três anos “porque o processo de reerguimento leva um certo tempo”.

Posição brasileira Sobre o Brasil, o economista lembrou o bom nível das reservas internacionais e a força da economia interna do país e ponderou que, embora os preços das commodities esteja em processo de queda, os valores atingiram um pico muito alto até o começo do ano e a recuo apenas os coloca de volta em patamares anteriores e ainda satisfatório.

“Em relação ao setor do agronegócio, as pessoas não vão parar de comer por causa de uma desaceleração econômica. No negócio de soja, que é muito importante, não espero um declínio muito maior dos preços, ao contrário dos automóveis, que as pessoas param de comprar”, ressaltou o economista, que participa do encontro anual do Latin American and Caribbean Economic Association (Lacea) e do Latin American Meeting of the Econometric Society (Lames), no Rio de Janeiro.

Alerta Spence não deixou de lançar um alerta para o Banco Central e as autoridades responsáveis pela condução das políticas econômica e monetária. Segundo ele, em um cenário de danos à moeda nacional e de aumento nos gastos públicos os efeitos da crise podem se agravar.

“O risco é o erro nas políticas para responder à turbulência nos mercados financeiros. É um alerta para o Banco Central e para os responsáveis pela política monetária para prevenir problemas”, disse, destacando que o momento não é de pensar em crescimento, mas de tentar passar pela crise com o mínimo possível de danos, para então retomar o processo de forte crescimento.

Bolhas O ganhador do Nobel lembrou ainda que a crise deverá atingir a todos em menor ou maior escala, uma vez que havia bolhas e ativos supervalorizados em praticamente todos os lugares e setores da economia. Neste sentido, ele acredita que uma onda de regulação para limitar perdas e controlar mercados deverá acontecer apenas no curto prazo.

“Caso haja regulação além da conta, o sistema fica mais seguro, mas também dificulta a distribuição do risco, que é a maneira de reduzir esse risco e estimular o investimento e o crescimento”, afirmou.

Do Valor Online