Nordeste recebe menos ajuda que SC

A sociedade brasileira usa algum critério para escolher a quem ajudar em tragédias? Para Santa Catarina As doações da população totalizaram R$ 34 milhões. Já para o Nordeste as doações não alcançaram R$ 4 milhões

A sociedade brasileira usa algum critério para escolher a quem ajudar em tragédias? Há seis meses, houve uma mobilização nacional para ajudar as vítimas das chuvas que castigaram 63 cidades de Santa Catarina e mataram 137 pessoas, deixando 51 mil desalojadas e 27 mil desabrigadas.

O combate à catástrofe contou com 24 helicópteros e quatro aviões da Força Aérea. As doações da população totalizaram R$ 34 milhões e o governo federal e o Congresso Nacional liberaram R$ 360 milhões para as áreas atingidas.

Seis meses depois, as chuvas provocam uma calamidade pública no Nordeste.

O número de mortos é menor que o de Santa Catarina, 48, mas as consequências são maiores: mais de 300 cidades afetadas, 250 mil desalojados e 120 mil desabrigados.

Inesperado
Apesar do número quatro vezes maior de pessoas que precisam urgentemente de ajuda, só três helicópteros e três aviões atuavam na região na semana passada e as doações não alcançaram R$ 4 milhões. O governo federal autorizou o repasse de R$ 880 milhões para atender às vítimas de enchentes, mas a medida ainda aguarda aprovação do Congresso Nacional.

Por que a sociedade trata de forma diferente as duas tragédias? “Santa Catarina é um dos Estados mais desenvolvidos do Brasil. No Nordeste, aquilo já é esperado”, analisa o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, mostrando que o tratamento diferenciado revela um preconceito profundo.

Ou seja, a população brasileira ainda encara as catástrofes em regiões pobres como acontecimentos “normais”, “esperados”, contra os quais “nada pode ser feito”.

Por outro lado, quando a desgraça ocorre em lugares mais abastados, ela deve ser imediatamente combatida por tratar-se de fato “inesperado”, para o qual os moradores não estavam “preparados”.