Nós também podemos falar

Ato em defesa da livre manifestação dos trabalhadores reuniu cerca de 500 pessoas no Centro de São Paulo ontem. O protesto foi contra a censura imposta à Revista do Brasil, publicação feita por 23 entidades sindicais da CUT. Os trabalhadores afirmaram  que também podem apresentar seu ponto de vista e que a liberdade de expressão não é exclusiva dos grandes veículos de comunicação.

Temos direito à liberdade

Por que eles podem e nós não? Essa era uma das frases estampadas num dos dezenas de pirulitos que manifestantes empunhavam ontem, em frente da Prefeitura de São Paulo, no ato em repúdio à censura imposta à Revista do Brasil. 

O local foi escolhido porque o prefeito da capital, Gilberto Kassab, é do PFL, partido que junto com o PSDB conseguiu proibir a circulação do primeiro exemplar da revista por meio de uma representação no Tribunal Superior Eleitoral.

A proibição para a circulação do primeiro exemplar da Revista do Brasil foi vista como um atentado à liberdade de expressão e à própria democracia, já que grandes veículos de comunicação não são submetidos a essas situações na Justiça, mesmo quando são parciais ou defendem interesses nem sempre legítimos de parte da população.

“Liberdade de imprensa não é aquela que interessa aos grandes grupos de comunicação, mas à livre circulação de idéias. Nossa Constituição garante que os veículos das grandes empresas de comunicação não sofram censura. Mas por que a revista dos trabalhadores pode sofrer?”, indagou o vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o jornalista Audálio Dantas.

Luta de classes – O editor da agência de notícias Carta Maior, Flávio Aguiar, acredita que a Revista do Brasil incomodou a  coligação PSDB/PFL. “Eles sentiram o golpe”, avaliou.

Para Aguiar, a representação que conseguiu proibir a circulação da revista é uma ação eleitoreira, mas  não por causa do conteúdo do seu noticiário ou pela alta tiragem da revista (são 360 mil exemplares). “O que assusta os dois partidos é o fato de ter surgido uma publicação livre e alternativa, que publica os fatos segundo o ponto de vista do trabalhador. E isso é uma ameaça ao projeto neoliberal do PFL/PSDB”, analisou.

Nessa mesma linha, o presidente do nosso Sindicato, José Lopez Feijóo, acredita que qualquer projeto de comunicação de massa desenvolvido pelos trabalhadores desafia toda a ordem estabelecida pela elite. “Para eles, sociedade livre é aquela do mercado: quem pode comprar, tem. Para nós, sociedade livre é ter o direito a saúde, educação, idéias que a nossa revista defende. É por isso que querem nos calar”, afirmou o dirigente.

O presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino, relacionou a luta pela liberdade de expressão com a luta dos trabalhadores por democracia em pleno regime militar. “Nós estamos ousando outra vez, e isso incomoda a elite”, criticou.

Ao anunciar que o terceiro número da Revista do Brasil começará ser distribuído semana que vem, Marcolino avisou que o projeto de comunicação das 23 entidades sindicais que fazem a revista não se limita apenas a essa publicação e vai evoluir para rádio e TV.