Nova presidência do Solano assume com desafio de ampliar atendimento na Vila Moraes, envolver comunidade e trabalhadores
Projeto, mantido por trabalhadores na Volks, leva esperança de futuro a crianças e adolescentes de comunidades carentes em São Bernardo
O Centro Cultural Afro Brasileiro Francisco Solano Trindade, entidade mantida pelos trabalhadores na Volks, tem nova presidência. A troca de comando ocorreu ontem em atividade na sede administrativa da casa. O cargo foi assumido pelo integrante da Comissão de Fábrica na montadora, Charles Aurélio Jesus de Lima, o Tuiuiú. Ele entra no lugar de Nelson Rodrigues Rocha, que ficou à frente da casa por três mandatos, nove anos.
A cerimônia contou com a participação de representantes dos Metalúrgicos do ABC e de famílias atendidas pelo projeto. Também estiveram presentes integrantes da direção do Sindicato dos Bancários do ABC, o presidente eleito, Gheorge Vitti, e Carina Marasco Leone que irá compor a nova direção do Solano.
O novo presidente destacou que o grande desafio desta gestão é ampliar o atendimento às famílias da Vila Moraes, em São Bernardo. “No local não tem saneamento, o acesso é muito ruim. Durante a pandemia tivemos uma forte atuação na comunidade para poder atender as crianças e adolescentes. A missão é levar cidadania e esperança às 500 famílias que vivem lá”.
Situação na Vila Moraes
Um levantamento, realizado com 313 famílias que residem na Vila Moraes, identificou que 45% vivem com R$ 500 por mês, a mesma porcentagem não tem ninguém trabalhando e 66% tem criança ou adolescente em casa. Hoje o Centro atende 114 crianças dessa comunidade.
Sobre a arrecadação feita pelo projeto “Uma Hora para o Futuro”, que mantém a entidade, destacou que as arrecadações caíram e que é preciso recuperar.
“Como as arrecadações caíram, devido à diminuição no número de trabalhadores na montadora, desde a década de 1990, nosso trabalho é conscientizar sobre a importância de fazer a doação. Precisamos dar a chance para outras crianças de pelo menos terem acesso à cultura e lazer igual às nossas e auxiliar na formação de cidadãos. Olhar para a sociedade no entorno também é uma missão do movimento sindical”.
Papel transformador
O diretor administrativo do Sindicato, Wellington Messias Damasceno, destacou o papel transformador da entidade e ressaltou que mesmo nos momentos mais difíceis, a casa não deixou de atender as comunidades e exercer seu papel formador. “Já vi o Solano debater as reformas previdenciária, trabalhista, e o quanto isso impactava na vida das pessoas. Ele é muito mais do que uma ação social, dá esperança para as crianças, além de ter potencial transformador”
Outro desafio, apontado por Wellington, é ampliar a comunicação para além dos trabalhadores na Volks. “É preciso ampliar a comunicação para além da nossa categoria, dialogando com a sociedade sobre o papel do projeto social, a importância de envolver a comunidade, e dentro da comunidade praticar a formação, do convívio e de novas práticas, como na Vila Moraes estão discutindo a eco comunidade”. Uma horta comunitária está sendo cultivada para ajudar a alimentar os moradores.
Semente do protagonismo
Nelson Rodrigues Rocha, deixa a presidência com a certeza de que plantou uma semente de protagonismo. “Hoje o que me deixa mais feliz é que plantamos uma semente de protagonismo pelas comunidades onde passamos. Em uma delas, por exemplo, os meninos criaram um vínculo de amizade e formaram uma banda. Hoje é possível reconhecer neles a valorização da autoestima e do talento individual. O trabalho artístico que é feito no Solano é algo muito profissional de excelência”.
Centro Cultural Afro Brasileiro
Criado em 1998, a partir de um processo de articulação e mobilização entre o Sindicatos dos Metalúrgicos do ABC, o IG Metall da Alemanha e representantes do Movimento Negro, a entidade é mantida pela campanha “Uma hora para o Futuro”, dos trabalhadores na Volks. Com sede em São Bernardo, o Centro Cultural atende hoje crianças e adolescentes carentes com uma proposta pedagógica fundamentada na cultura afro-brasileira.