Novo modelo sindical
Da mesma forma como foi possível ao longo de todos estes anos conquistar direitos, independente de mudança na CLT, também tem sido e continuará sendo possível provocar mudanças na estrutura sindical.
Todos nós, em particular o leitor e a leitora do ABC, conhecemos de longa data as verdadeiras aberrações que se escondem por trás da estrutura sindical brasileira. Confederações, federações, sindicatos, em sua maioria, obsoletos, pesados, custosos, que nada representam, senão interesses de meia dúzia de velhos e jovens dirigentes. Tudo que fazem é manter a conta bancária ativa para recolher impostos e contribuições sindicais.
Esta estrutura sindical, que vale para trabalhadores e para empresários é tão arcaica quanto a legislação trabalhista. E precisa modernizar-se. Só que ninguém fala disto. Sabe por que? Porque quem tem poder neste País não tem interesse em mudá-la. Prefere financiar o surgimento de uma central sindical com seus shows milionários a exemplo do que está sendo preparado na região. Tentar transformar o 1º de Maio, dia internacional de luta, em circo destinado a enganar trabalhadores é emblemático do verdadeiro significado desta simbiose entre o empresariado e o peleguismo sindical.
Na década de 70, na luta contra a ditadura, que também existia no chão das fábricas, nossa principal bandeira era a liberdade e a autonomia sindicais. Com a fundação da CUT, demos um primeiro passo nesta direção. Mas faltou muito para acabar com a picaretagem sindical herdada do getulismo.
Por isto não podemos ficar de braços cruzados. Da mesma forma como foi possível ao longo de todos estes anos conquistar direitos, independente de mudança na CLT, também tem sido e continuará sendo possível provocar mudanças na estrutura sindical.
É o que estamos fazendo no nosso Sindicato. Na última semana iniciamos processo eleitoral que pretende consolidar no ABC um modelo revolucionário de organização sindical. As eleições vão até 9 de abril próximo, quando os cerca de 70 mil metalúrgicos associados elegem os 27 membros do Conselho da Diretoria Executiva, inclusive o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Decidido em Congresso da categoria e inaugurado nas eleições de 1999, a nova estrutura está baseada na constituição, dentro das fábricas, de Comitês Sindicais. Este formato rompe radicalmente com o modelo tradicional em que dirigentes se perpetuam na função, sem passar por qualquer processo de legitimação no seu local de trabalho. O requisito indispensável para concorrer ao comitê é a existência de vínculo empregatício do candidato com o local de trabalho.
Este processo teve início em janeiro último, quando uma Assembléia Geral, com a presença de 498 associados, votou e aprovou a lista de empresas onde serão eleitos os Comitês, o número de membros de cada Comitê, a Comissão Eleitoral, o seu presidente e o calendário.
Nesta semana realizamos eleições em 76 empresas da região do ABC. Nelas foram eleitos com 24.764 votos válidos, os 215 membros dos Comitês Sindicais de Empresa que constituirão a Diretoria Plena do Sindicato para um mandato de três anos. Neste universo de empresas trabalham mais de 70% dos metalúrgicos da região.
Eleitos, os diretores membros dos Comitês Sindicais formam chapas compostas por 27 membros, inclusive o candidato à presidência, que, em abril, concorrem em eleições diretas em todas as fábricas (inclusive onde não houver comitês) para formar o Conselho da Direção Executiva do Sindicato e o Conselho Fiscal.
O resultado desta nova estrutura nestes três primeiros anos de seu funcionamento tem sido o fortalecimento da organização sindical no chão da fábrica. O caso da Volks é exemplar. Durante todo o ano passado, ao enfrentar o processo de reestruturação da fábrica, conviveram dentro do Comitê Sindical duas posições diferentes, uma delas em permanente oposição aos encaminhamentos dados pelo Sindicato e pela maioria dos membros do Comitê.
O debate eleitoral e o resultado das urnas não deixam dúvidas: dos 8622 votos válidos colhidos na Volks, a oposição não conseguiu mais que 32% de aprovação, ou seja, s