Novo presidente do Observatório Social fala sobre futuro da instituição

Em setembro, o Instituto Observatório Social ganhou novo presidente - Aparecido Donizeti da Silva, dirigente com grande histórico no ramo químico

Em entrevista cedida ao informativo Na Base, do Sindicato dos Químicos e Petroleiros da Bahia, o novo presidente do IOS fala sobre os projetos que pretende manter sob sua coordenação e também dos programas que serão implementados para ampliar a atuação do órgão.

Na Base – Quais são os temas pesquisados pelo Instituto Observatório Social e de que forma se relaciona com o movimento sindical?

Aparecido Donizete Silva – O Instituto Observatório Social (IOS) foi criado para subsidiar o movimento sindical no monitoramento do cumprimento das convenções da OIT, principalmente no tocante aos temas de liberdade sindical, negociação coletiva, igualdade de gênero e raça, proibição do trabalho infantil e trabalho escravo, saúde e segurança e meio ambiente. Isso é feito através de pesquisas em empresas multinacionais, nacionais e públicas com diversos formatos, dependendo do tempo e das informações disponíveis.

Desde 1997 foram realizadas mais de 50 pesquisas a partir de uma metodologia própria, que tem como principal fonte de informação o ponto de vista dos trabalhadores acerca desses temas. Foi criada pensando nas necessidades do movimento sindical cutista, brasileiro e latino-americano. Em 2005, expandimos nosso escopo com a criação da RedLat (Rede Latino-americana de Pesquisas em Empresas Multinacionais) que engloba além do Brasil, parceiros na Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru, e Uruguai, com apoio da CSA e da central sindical holandesa FNV. Nestes países são realizadas pesquisas que são comparadas a fim de que haja um panorama geral de determinada empresa ou setor na região. Já foram estudadas a Unilever, e os bancos espanhóis Santander e BBVA e está sendo desenvolvida uma pesquisa sobre o impacto dos investimentos chineses no mercado de trabalho da América Latina. Este estudo, que fica pronto no início de 2010, já está sendo considerado um marco para as reflexões que são feitas sobre assunto na região, e principalmente por ser uma iniciativa sindical. Além disso, complementar ao trabalho de pesquisas e muitas vezes unido a ele, incorporamos a discussão sobre Responsabilidade Social Empresarial do ponto de vista do trabalhador, Diálogo Social como parte da agenda do Trabalho Decente e o uso das novas tecnologias como ferramenta para a luta sindical.

Todos os anos realizamos uma Conferência internacional para discutir teoria e prática de temas de interesse para o movimento sindical que foram destaque no nosso trabalho do ano. Neste ano acabamos de realizá-la, com o tema do Diálogo Social. A cobertura completa pode ser vista em nosso site: http://www.os.org.br/.

À parte das pesquisas em empresas, o IOS também produz relatórios mais aprofundados em um determinado tema, como cada um dos direitos fundamentais do trabalhador – o monitoramento do pacto nacional pela erradicação do trabalho escravo é um exemplo atual – ou o tema juventude.

NB- Sob sua coordenação, o Instituto continuará com os mesmos projetos ou pretende ampliar a atuação do Observatório Social?

AD – Seguiremos investindo no apoio às redes sindicais, como forma de organização para a manutenção e ampliação dos direitos dos trabalhadores. Para tanto, seguiremos nosso reconhecido trabalho de pesquisas, investindo cada vez mais em nos aproximar da Agenda do Trabalho Decente. Continuaremos a investir nas relações internacionais e no contato com centrais sindicais, sindicatos e institutos de pesquisa em todo o mundo para trocar experiências de boas práticas para subsidiar o movimento sindical cutista. Parte desse esforço será estreitar as relações com as Federações Internacionais, e particularmente com a ICEM, com quem já temos ótimas relações. Também está nos planos reforçar o serviço oferecido através do programa Conexão Sindical, de inclusão digital e uso das ferramentas de tecnologia. Este é um dos projetos de maior visibilidade do IOS e que traz resultados concretos para a ação sindical. Para ampliar nosso apoio ao movimento sindical, estamos pensando em desenvolver um trabalho na área de mudanças climáticas, um projeto de capacitação dos membros das redes de trabalhadores sobre as normas internacionais como as Convenções da OIT, normas do Pacto Global da ONU, ISO 26.000 e outras que servem como instrumentos de monitoramento e pressão às empresas e podem preparar nossos representantes e auxiliar no avanço dos processos de Diálogo Social.

NB – O uso da internet pelas redes sociais tem sido muito elogiado pelo movimento sindical e no Instituto a conexão sindical é exemplo disso. De que forma o Instituto mede os resultados dessas redes intersindicais?

AD – O IOS conta com um sistema de informação, todo baseado em linguagem web, com duas ferramentas principais: um site e o programa Conexão Sindical. O site institucional traz informações sobre o Instituto, notícias atualizadas diariamente e uma biblioteca virtual extensa com estudos do IOS e outros documentos de interesse do movimento sindical, tudo disponível pelo endereço: http://www.os.org.br. O programa Conexão Sindical, uma rede social parecida com o ORKUT, funciona desde 2002 com o objetivo de promover o diálogo e a troca de experiências entre dirigentes sindicais e trabalhadores. Conta com diversas ferramentas como blogs, vídeos, grupos de discussão, páginas de recados, página de eventos, entre outros. Atualmente o Conexão Sindical conta com mais de 2.000 membros cadastrados entre dirigentes, assessores, trabalhadores e pesquisadores; e mais de 15.000 postagens realizadas pelos usuários. Os resultados são medidos principalmente por meio dos acessos realizados, em agosto foram mais de 22 mil visitas apenas no Conexão Sindical. Outro indicador que consideramos importante é a realização de oficinas de capacitação no tema das novas tecnologias em todo o Brasil. Apenas em 2008 foram em torno de 10 alcançando cerca de 250 dirigentes sindicais e a meta é terminar 2009 com número igual ou superior.

NB – Nos últimos anos, quais têm sido os resultados concretos do trabalho do Observatório Social?

AD – O principal ganho do trabalho do IOS foi o estímulo para a criação das redes e do programa CUT Multi. O ramo químico foi pioneiro nesta questão com a rede BASF, em função do nosso esforço e nosso contato com os companheiros da Alemanha. Mas as redes entraram na estratégia da CUT a partir do 9º ConCUT e as pesquisas do IOS foram essenciais para isso. O trabalho realizado para a coleta dos dados faz com que os trabalhadores se reúnam e discutam problemas comuns nas diversas plantas e unidades, fazendo com que a organização nacional seja a única resposta. No ramo químico, em especial, apoiamos a consolidação das redes BASF, Bayer, Novartis e estimulamos a criação e fortalecimento de outras como Solvay e Braskem. E na área de papel e celulose, estamos trabalhando com a ICEM para criar uma rede regional dos trabalhadores no setor em todo o Cone Sul. Outro resultado direto do nosso trabalho é a repercussão das revistas publicadas pelo IOS. Três delas já receberam prêmios de direitos humanos e uma das reportagens sobre a produção de carvão no norte do país, que trouxe denúncias de trabalho escravo, foi utilizada como base para a discussão que culminou no Pacto pela Elaboração do Trabalho Escravo com a OIT, Ministério do Trabalho e Emprego, Repórter Brasil, Instituto Ethos e IOS.

Isso sem contar nos casos específicos nas empresas estudadas, com avanços no diálogo e melhoria nas condições de trabalho.

NB – Existe alguma pesquisa do Observatório nas empresas do ramo químico?

AD – O IOS trabalha muito próximo do ramo químico desde o início de suas operações em 1997. Neste período foram feitas pesquisas menores e maiores, algumas apenas com dados secundários, algumas com entrevistas, que estão à disposição em nossa biblioteca virtual. O acesso a esses relatórios pode ser feito através do endereço: http://www.observatoriosocial.org.br/biblioteca/. Entre as empresas do ramo químico pesquisadas estão: Akzo Nobel, Basf e Bayer. Queremos continuar esta parceria com o ramo e nos próximos anos fortalecer o trabalho das redes desenvolvendo outros estudos.

Do Sindicato dos Químicos e Petroleiros da Bahia