Novo regime automotivo inclui os carros elétricos

O governo não tinha a intenção de criar uma política especial para carros  elétricos e híbridos no novo regime automotivo, mas acabou, em sua  regulamentação, permitindo a inclusão dessas tecnologias no cálculo da  eficiência energética dos carros vendidos no Brasil.

Na prática, isso permite às montadoras melhorar sensivelmente seus índices de  eficiência – como determina a nova política automotiva – com a importação desse  tipo de automóvel, o que tem sido visto como o primeiro sinal claro de que o  governo vai incentivar a introdução de automóveis movidos a bateria elétrica no  país.

Foi uma vitória para as montadoras que estão na linha de frente dessas  tecnologias e têm interesse em desenvolvê-las no mercado brasileiro, como as  japonesas Nissan, Toyota e Mitsubishi. A briga delas agora é para que os  veículos puramente elétricos ou híbridos – aqueles que combinam o tradicional  motor a combustão interna com outro elétrico – tenham peso maior no cálculo a  ser feito pelo governo daqui a cinco anos para atestar se os fabricantes de  automóveis cumpriram o compromisso de tornar mais econômicos os carros em  circulação no país. Isso, no entanto, ainda depende de regulamentação  complementar.

A inclusão das novas tecnologias veio no bojo das alterações feitas no texto  do novo regime automotivo e que foram publicadas na segunda-feira no Diário  Oficial da União. Para ter acesso aos descontos no Imposto sobre Produtos  Industrializados (IPI) previstos pela politica automotiva, as montadoras,  compulsoriamente, se comprometem a melhorar em, no mínimo, 12% a eficiência  energética de seus produtos até 2017 – sob a pena de multas pesadas no caso de  descumprimento. Àquelas que conseguirem extrapolar as metas de consumo fixadas  serão concedidos descontos extras no IPI, em até dois pontos percentuais.

As montadoras já fazem as contas e projetam ganhos significativos com a  inclusão das novas tecnologias. Num cálculo hipotético, Robert Rittscher,  presidente da Mitsubishi no Brasil, diz que, com vendas de 3 mil carros híbridos  e 1,5 mil elétricos, seria possível atingir um ganho de eficiência da ordem de  5% a 6% no portfólio de veículos da marca.

Tal efeito, contudo, só acontecerá se houver demanda para esses carros e,  nesse ponto, a indústria ainda esbarra na falta de incentivos ao desenvolvimento  desse mercado. Sem tributação especifica, os carros elétricos são enquadrados  com a alíquota mais alta do IPI – 55% -, enquanto esse imposto para os híbridos  varia de acordo com o tipo do motor a combustão do veículo. Soma-se a isso a  alíquota de 35% do imposto de importação, já que nenhum desses carros é  produzido no país.

As montadoras são unânimes em considerar que sem cortes brutais nesses  impostos e o apoio do governo – como se fez em mercados desenvolvidos – será  inviável disseminar os carros elétricos ou híbridos no Brasil. Nos Estados  Unidos, por exemplo, os subsídios governamentais chegam a reduzir em US$ 10 mil,  para US$ 18,8 mil, o valor pago pelo Leaf, carro elétrico da Nissan.

Já no Brasil, o Prius, híbrido da Toyota, chegou às concessionárias em  janeiro ao preço de R$ 120,8 mil, mas, se houvesse, ao menos, isenção de IPI, o  carro custaria menos de R$ 100 mil, segundo cálculos da própria empresa. Por  outro lado, um estudo da Maksen mostra que, mesmo com uma redução nos custos de  produção, os motores elétricos seguiriam duas vezes mais caros do que os  tradicionais sistemas de propulsão e, com isso, continuariam com pouca  atratividade no mercado brasileiro, bastante sensível a preços.

 

Do Valor Econômico