Novos carneiros…velhos lobos
Em uma súbita crise de responsabilidade social, os empresários preparam uma grande cruzada patronal contra a dependência química.
Suas armas serão os testes de detecção de vestígio de drogas na urina dos trabalhadores e os programas de dependência química (PDQ) na busca da produtividade total, da redução do absenteísmo e até dos acidentes no trabalho.
Não fazem parte do PDQ a redução dos níveis de estresse no trabalho, a melhoria da segurança nas máquinas, a realização profissional ou um futuro melhor para os trabalhadores. Não pensam também no combate aos coleguinhas empresários que lucram muito exaltando as maravilhas da cerveja e de outras bebidas, e o charme do cigarro, que é porta de entrada para a maconha, a cocaína e o crack.
Bom senso e consenso
• A dependência química é uma doença incurável e precisa ser tratada. Mesmo após vários anos de abstinência há um risco enorme de recaída.
• Ela desestrutura a pessoa, a família e a sociedade.
• Tem um custo social e econômico inquestionável para a produção, a segurança, a saúde pública, a Previdência e para o desenvolvimento do País.
• Toda sociedade deve estar unida para ajudar na recuperação dos dependentes químicos.
As incoerências
• Não se tratam doenças incuráveis oferecendo 30 dias de tratamento gratuito, mais quinze em caso de recaída, e daí por diante o problema passa a ser do próprio dependente.
As melhores clínicas do mundo conseguem recuperar pouco mais de 10% dos pacientes. Os demais são reincidentes.
• As testagens, segundo dados dos laboratórios da USP, apresentam resultados positivos em pouco mais de 2% das pessoas, o que é sabido há muito tempo.
• As empresas têm todos os meios para perceber, identificar, contatar os dependentes químicos e tratá-los, mas, só fazem isso quando o trabalhador perde a capacidade produtiva.
• As testagens aleatórias ou obrigatórias são ilegais, inaceitáveis e só se justificam como forma de identificar e punir o trabalhador que não conseguir se livrar de uma doença sabidamente incurável com um ou dois tratamentos de eficiência questionável.
Talvez esses velhos lobos, disfarçados de novos carneirinhos, devessem testar o xixi dos seus filhotes que depois das baladas, drogados e alcoolizados, se matam e assassinam milhares de vítimas inocentes com seus carros velozes e descontrolados.
Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente