O ABC da Copa: “Cada palavra formada é como um gol marcado numa final de mundial”

O educador Alex durante aula temática sobre a Copa

Aos 74 anos, a traba­lhadora aposentada Adalgisa Serafim Reis ainda se emociona ao lembrar a primeira vez que conseguiu escrever o próprio nome.

“Tive que assinar um do­cumento no banco e só depois que assinei descobri que sabia escrever o meu nome”, contou emocionada ao lado de seu educador José Alex Trajano.

Adalgisa é uma das edu­candas amparadas pelo Mo­vimento de Alfabetização, o MOVA, do ABCDMRR, que recebe o apoio do Sindicato para a manutenção de salas em São Bernardo, Santo An­dré, Mauá e Rio Grande da Serra.

Alex compartilhou a emo­ção de Adalgisa. “Estas aulas criam vínculos e requerem atenção específica a cada alu­no, já que nem todos têm a mesma facilidade em aprender”, disse.

O professor aproveitou esta emoção, que também envolve o futebol, e pegou carona na Copa do Mundo para ensinar a Adalgisa e a suas outras 17 alunas, a maioria também na terceira idade, a ler e escrever usando como base o Mundial, que daqui oito dias começa no País.

Ele usa a própria casa em uma comunidade carente na periferia de Mauá para acomodar as educandas nas tardes de segunda a quinta. Algumas ainda aprendem as primeiras letras do nome, outras já for­mulam frases.

A série de aulas temá­ticas elaborada por Alex contextualiza a história da Copa com a apresentação das bandeiras dos 12 Estados brasileiros que receberão jogos em seus estádios.

“Reproduzimos também as bandeiras da Croácia, México e Camarões, países que enfren­tarão o Brasil na primeira fase. O Fuleco, mascote do evento, também foi citado”, contou.

“A expectativa é grande em todas as aulas, pois cada palavra formada é como um gol marcado em uma final do mundial”, comparou Alex.

Lamentavelmente, algu­mas vezes a própria família impede a participação destes idosos nas aulas, pois com o conhecimento adquirido eles passam a reivindicar seus direitos.

“Mesmo assim, os alunos insistem. São pessoas sofridas, que enxergam na alfabetização uma nova perspectiva de vida”, concluiu o professor.

Dobradinha educação e futebol promove consciência política

Alunas mostram seus trabalhos em frente à ´escola´

“Usar a Copa do Mundo como tema para ensinar alunos a ler e a escrever tornou ainda maior este momento de festa e torcida pelo Brasil. Aliar educação ao futebol ajuda quem ainda aprende as primeiras letras”.

A opinião é da coordenadora do Mova ABCDMRR e diretora executiva do Sindicato, Ana Nice Martins de Carva­lho. Ela celebra a iniciativa e lembra que só com consciência política haverá a transformação da sociedade por meio da educação.

“A aula do professor Alex é um bom exemplo de que en­tender os direitos e o estatuto do idoso é fundamental na luta pela liberdade intelectual de cada um neste projeto”, prosseguiu Ana Nice.

Ela lembra que o Mova utiliza o método da educação li­bertadora, criado pelo educador Paulo Freire, onde os estudos e a troca de conhecimentos entre professor e estudante são formulados a partir do conhecimento do educando.

Da Redação