O ABC é Brasil

A combatividade, o fortalecimento das bases, o alto índice de representação sindical e a sintonia com os movimentos sociais na luta contra as desigualdades de renda e de direitos, são características que ajudaram a transformar o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC numa referência nacional e internacional.
 
Em 1933, quando o sindicato foi criado – congregando os metalúrgicos de toda a região do ABC – as condições de trabalho eram péssimas, os salários baixos, direitos trabalhistas praticamente inexistentes; e, para complicar ainda mais a situação, havia forte repressão ao movimento sindical e total falta de infraestrutura para a ação sindical. Para fazer um piquete, era preciso alugar um caminhão para transportar os militantes; os sindicalistas andavam a pé ou de ônibus e, muitas vezes, substituíram o carro de som e megafones realizando assembléias com a força do “berro”.
 
As dificuldades, no entanto, só reforçaram a determinação dos trabalhadores de seguir em frente e até ampliar o raio de atuação ainda na primeira década de vida do sindicato. Além do tradicional embate capital-trabalho por melhores salários e  condições de trabalho, o Sindicato começou a se preocupar com questões gerais, como por exemplo à solidariedade aos operários espanhóis durante a Guerra Civil de 1936-1939. Em 1943, o Sindicato esteve à frente do movimento pela decretação da guerra contra o nazi-fascismo, arrecadando fundos para as famílias dos expedicionários que foram combater na Europa.
 
Com a instalação da indústria automobilística, a entidade se desmembrou e, em 1959, foram fundados o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e o de Diadema, que atuaram juntamente com o originário Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, até a reunificação de 1993, quando foi criado, então, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
 
A reação dos metalúrgicos do ABC contra a Ditadura Militar – os militares governaram o País de 1964 até 1985 – é outro momento histórico da categoria. Particularmente a partir de 1978, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, o Sindicato  desempenhou um importante papel na luta pela  recuperação da democracia no Brasil. 
 
Em 12 de maio de 1978, em plena vigência do Ato Institucional Número 5 ( AI-5 ), considerado o mais duro do governo militar, que, entre outras coisas acabou com as garantias do habeas-corpus e aumentou a repressão militar e policial; os metalúrgicos de várias fábricas do ABC entraram em greve, sendo que a maior paralisação ocorreu na Scania (planta de São Bernardo do Campo da montadora sueca), dando início a um novo ciclo histórico das lutas sindicais no país, que se irradiou para outras categorias e outros Estados brasileiros em pouco tempo.
 
Essas mobilizações são apontadas como elemento fundamental no processo de construção do Partido dos Trabalhadores, a partir de 1979, e da (CUT) Central Única dos Trabalhadores, fundada em agosto de 1983. O primeiro presidente nacional da CUT foi Jair Meneguelli, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, ex-deputado federal e atualmente presidente do SESI – Serviço Social da Indústria.
 
O deputado federal Vicente Paulo da Silva, Vicentinho, que sucedeu Meneguelli na CUT e dirigiu o Sindicato entre 1987 e 1994, lembra que a partir de 1985 e de uma prolongada greve que ocorreu simultaneamente à doença de Tancredo Neves (primeiro presidente civil eleito – indiretamente –  em 21 anos, Tancredo não assumiu a Presidência. Foi internado na véspera da posse e depois de sete cirurgias faleceu em 21 de abril, vítima de infecção generalizada; o senador José Sarney assumiu interinamente no dia 15 de março daquele ano e oficialmente em 22 de abril)  ficou claro que tinha chegado a hora de priorizar o trabalho de organização de base no chão da fábrica. Depois de uma grande mobilização, as empresas demitiram os líderes e a militância es