O consumo e o prazer
Nas colunas das últimas
semanas vimos que o baixo
reconhecimento do trabalho é
conseqüência direta da divisão
do trabalho, da substituição
do trabalho físico e mental
pela máquina e pelos sistemas
informatizados, além da substituição
do saber, da habilidade
e da experiência no fazer
pela qualificação em saber
operar máquinas e sistemas.
Contradição – Discutimos também como
os processos de avaliação
por competência são contraditórios
em relação ao discurso
da empresa que enfatiza
a qualificação para, na
prática, valorizar quase exclusivamente
a disponibilidade
do trabalhador em aceitar
desafios, cumprir metas e se
sujeitar aos objetivos da empresa
ainda que isso signifique
abrir mão da convivência
social, familiar e do próprio
descanso.
No mesmo discurso que
valoriza a qualificação aparece
que o principal atributo perseguido
pela empresa na hora
de contratar é a disposição do
trabalhador em aceitar desafios,
o que nada tem a ver com
qualificação profissional.
Gestão pelo estresse – Por fim, discutimos como
o baixo reconhecimento associado
à gestão muito autoritária
e repressora leva ao estresse
e depois ao adoecimento
físico e psíquico, cujas conseqüências
mais graves são o
Burnout, que é a total falência
psico-orgânica do trabalhador,
a morte pelo excesso
de trabalho e o suicídio.
Felicidade e prazer – Em troca da falta de
reconhecimento, da pouca
perspectiva de crescimento
na carreira, da frustração,
da angústia e da incerteza
sobre o futuro, da falta de
tempo para si mesmo e para
a família, da luta diária pela
sobrevivência na competição
desenfreada pela manutenção
do emprego, da
infelicidade e da não realização
dos desejos, a sociedade
capitalista nos dá o
consumo.
E mergulhamos como
loucos num consumo sem
propósitos buscando a felicidade
que não temos nos
produtos das vitrines. Substituindo
o carinho que falta
aos nossos filhos pela última
versão do vídeo game, a solidão
da falta de amigos pela
balada embalada em álcool
e ecstasy.
Em lugar da felicidade
duradoura e sem limites,
um produto indisponível
no mercado nos oferecem
o prazer momentâneo, passageiro,
fugaz e controlado
e ainda assim aceitamos,
em nome da qualidade de
vida…
Departamento de Saúde do trabalhador e Meio Ambiente