O golpe militar será o tema do debate Ditadura nunca mais, que o Sindicato promove nesta sexta-feira (3), às 18h, na Sede

Participarão do evento o deputado federal José Genoino, que lutou na Guerrilha do Araguaia; Raphael Martinelli, ex-sindicalista ferroviário; padre Rubens Chasseraux, militante da resistência contra a ditadura no ABC; e o procurador da República Marlon Alberto Weichert, responsável pela ação que pune o coronel Brilhante Ustra pelo crime de tortura. No mesmo dia será aberta na Sede a exposição de fotos Direito à memória e à verdade - A ditadura no Brasil, com algumas das mais marcantes cenas do período

Militares tentam impedir posse de Jango

A renúncia inesperada de Jânio Quadros deixou vaga a cadeira de presidente da República. Segundo a Constituição brasileira da época, o substituto seria o vice-presidente e, na impossibilidade deste, o presidente da Câmara dos Deputados.

Como o vice-presidente João Goulart, o Jango, estava em viagem pela China, o deputado Pascoal Ranieri Mazzili assumiu a Presidência.

Jango soube da renúncia ainda no exterior. Foi informado, também, que os ministros militares não aceitavam sua posse. Os generais haviam participado ativamente da derrubada de Getúlio Vargas da Presidência da República, em 1954, e não queriam um de seus principais seguidores no cargo.

Getúlio fora o mentor e protetor de João Goulart em toda sua carreira política. Ambos partilhavam as mesmas opiniões nacionalistas e desenvolvimentistas sobre economia e de maior participação popular e política.

Os militares golpistas pensavam o oposto e estavam dispostos a rasgar a Constituição para impedir o que chamavam “a posse de um esquerdista”. Tinham o total apoio das elites, mas não eram acompanhados pela maior parte da população. As Forças Armadas também estavam divididas.

O impasse durou vários dias e polarizou a sociedade brasileira, colocando frente a frente os contrários a João Goulart e os defensores da Constituição.

Cadeia da Legalidade mobiliza contra o golpe
O principal foco de resistência aos militares localizou-se no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, o governador Leonel Brizola, contando com o apoio do III Exército, iniciou uma campanha de alcance nacional pela posse de Jango.

Brizola organizou a Cadeia da Legalidade, uma rede com mais de cem emissoras de rádio que conclamava a população a se mobilizar em defesa da posse de Goulart.

O rádio era o grande meio de comunicação da época – a televisão mal tinha chegado – e a Cadeia da Legalidade incendiou a população, em uma das maiores mobilizações cívicas da história do Brasil.

Respondendo ao apelo das ruas, os sindicatos anunciam uma greve geral em defesa da posse. Os militares golpistas responderam que “não aceitariam qualquer subversão da ordem”. O clima era muito tenso e o País estava perto de uma guerra civil.

Acordão no Congresso remendou situação
A solução conciliatória foi encontrada pelo Congresso Nacional: a implantação do regime parlamentarista. Jango assumiria a Presidência da República, mas ficaria subordinado a um gabinete comandado pelo primeiro-ministro.

Jango prolongou sua viagem ao exterior, de onde se informava sobre os rumos dos acontecimentos. No dia 30 de agosto, em Montevidéu, no Uruguai, ele anunciou que aceitava a fórmula parlamentarista.

No dia 2 de setembro, o Congresso Nacional aprovou a emenda parlamentarista e, no dia 7, Jango foi empossado na Presidência da República.

A mobilização militar, desobedecendo a Constituição, pode ser considerada um ensaio do golpe que seria desfechado dois anos depois. Na próxima tentativa, contudo, os golpistas sairiam vitoriosos.

Da Tribuna Metalúrgica