O pé de meia
O aumento da agressividade provocado pelo estresse, como mostramos na semana passada, é consequência da ameaça à própria sobrevivência e à vida que representa a perda do emprego. Pior, ainda, quando se está numa idade acima dos 35 anos, quando se está próximo da aposentadoria e, para muitos, quando já se está aposentado.
É fácil entender as duas primeiras.
Para quem tem mais de 35 anos, a primeira dificuldade é o da concorrência com jovens recém chegados ao mercado de trabalho ou ainda buscando o primeiro emprego, que estão dispostos a tudo para conquistar uma vaga. Entenda-se por esse tudo trabalhar mais horas, trabalhar mais rápido, por salário menor, sem contrato definitivo, enfim, topando qualquer condição para ter sua vaga.
Para quem já está próximo à aposentadoria fica ainda mais difícil. Geralmente são trabalhadores acima de 45 anos e que já sofrem há muito tempo uma queda no acesso à informação, atualização e formação profissional.
Além disso, em decorrência das más condições de trabalho, acabam tendo problemas de saúde e algumas restrições ao trabalho, que certamente irão se manifestar mais frequentemente com o passar do tempo.
Para os aposentados o drama é outro. Geralmente acima dos 50 anos, ainda têm uma família dependente da sua fonte de renda.
Muitos têm filhos na faculdade, desempregados, netos pequenos com pais sem trabalho e morando na mesma casa, doenças na família que dependem do seu plano médico, enfim, toda uma realidade que contraria a teoria da velhice tranquila, com pé de meia garantindo o futuro.
Quantos de nós chegaremos aos 60 anos com uma poupança que nos garanta saúde, alimentação, moradia, transporte e até possibilidade de dar uma pequena ajuda para os filhos e os netos?
Isso mostra que temos de repensar nossa sociedade.
Lutar por saúde pública de boa qualidade, segurança que não nos obrigue a ter tanta despesa com seguros, educação pública gratuita para que nossos filhos e netos tenham possibilidade de ser alguém incluído na sociedade e no trabalho.
Lutar para a nossa aposentadoria ser, também, o mínimo necessário para uma vida saudável, prazerosa, com lazer, atividades físicas e culturais.
Teremos de lutar pela nossa saúde e isso só é possível agora, enquanto ainda temos saúde e trabalho.
Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente