O racismo no Brasil
Durante bastante tempo acreditou-se que o Brasil era uma democracia racial. Cronistas do século 19 chegaram a dizer que a escravidão por aqui era mais branda do que o trabalho assalariado na Inglaterra. Da mesma forma, o índio brasileiro não teria sido conquistado nem derrotado, mas sim “incorporado” à nação. A idéia ganhou força nos anos 30, inspirada na obra do sociólogo Gilberto Freyre, para quem não havia no Brasil distinções rígidas entre brancos e negros. A discriminação era social, feita aos pobres.
O mito começou a cair a partir do final da década de 60, quando se descobriu que o Brasil não só tinha preconceito em relação aos pobres – o que em si já é terrível – como a discriminação era especialmente dirigida aos negros e índios.
Os dados sociais mais recentes mostram a força das diferenças ra-ciais no Brasil. “Mesmo quando se comparam pessoas da mesma região, sexo, idade e educação, os negros têm desvantagens no mercado de trabalho”, diz a socióloga Luciana Jaccoud, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA).
A idéia de que somos um caldeirão de raças e culturas em harmonia impediu que negros e índios denun-ciassem o racismo e requisitassem melhores condições. Ou seja, a imagem do preto e do nativo teve aceitação, mas as pessoas de pele negra continuaram pobres. O resultado da crença de que não temos racismo foi, de acordo com muitos cientistas, um dos piores racismos que se conhece.
Excertos do texto “Vencendo na Raça”, de autoria de Rafael Kenski, publicado na Revista Super Interessante (on line), em 03/05/2003.