O TRT de outros tempos
Os brasileiros em geral, e os metalúrgicos do ABC em especial, ficaram espantados com as notícias dos últimos dias, dando conta da relação espúria havida entre o ex-secretário geral da presidência da República, Eduardo Jorge, e o ex-presidente do TRT/SP, Nicolau dos Santos Neto.
Não é para menos, afinal aquele que era responsável por toda a parte burocrática que ronda o presidente admitiu, em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, que somente eram nomeados como juízes classistas do TRT/SP aqueles que estivessem dispostos a não indexar o percentual inflacionário nos salários, quando do julgamento dos dissídios coletivos das mais variadas categorias. Ou seja, em nome do “Plano Real”, como moeda de troca para a nomeação de classistas, os candidatos deveriam se comprometer em não decidir favorável à indexação da economia. E quem apontava os “juízes classistas de confiança” do presidente da república? Ninguém menos do que o ex-juiz Nicolau (conhecido popularmente como “Lalau”), o principal acusado no desvio de verbas para as obras do prédio da Justiça do Trabalho, que está foragido com prisão decretada.
Coincidência ou não, logo após entrar em vigor o “Plano Real”, os metalúrgicos do setor de autopeças no ABC entraram em greve pelas perdas salariais decorrentes da nova moeda, buscando a conquista do mesmo reajuste conseguido nas montadoras naquela época (setembro/94), os quais não lograram êxito no dissídio coletivo decidido no TRT/SP, muito embora o movimento grevista ter sido julgado não abusivo.
Certo é que o TRT/SP, hoje, não é nem a sombra do TRT da época do juiz Nicolau, que presidiu-o no biênio de 90/92. Nota-se que a sua forte influência continuou por alguns anos mais, mesmo após a sua aposentadoria. Mas, após gestões mais progressistas, principalmente à partir de 1995, o TRT/SP se transformou no melhor do País, com inúmeras decisões em favor dos trabalhadores, infelizmente quase todas cassadas pelo TST de Brasília. E, mais ainda, somente após a coragem do seu atual presidente, Floriano Vaz da Silva, conseguiu-se desvendar toda a maracutaia montada pelo juiz Nicolau. Justiça seja feita.
Departamento Jurídico