Oferta de mão de obra qualificada cresce mais de três vezes em 20 anos
A oferta de profissionais mais capacitados no mercado de trabalho com mais de 15 anos de estudos (ou seja, com pelo menos o Nível Superior completo), mais do que triplicou nos últimos 20 anos, enquanto se reduziu o contingente dos trabalhadores com Ensino Fundamental incompleto ou menos, aponta estudo divulgado ontem pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao governo federal.
A pesquisa contraria visão do setor empresarial de que há escassez de mão de obra qualificada, e mostra que o gargalo da falta de pessoal é maior entre os que têm baixa capacitação. Esses últimos também são os mais demandados pelas empresas. Isso é demonstrado, segundo o Ipea, porque, entre os que têm de zero a três anos de escolaridade, o rendimento médio real cresceu 71% entre 1992 e 2012, enquanto, nesse período, houve redução de 4,84% na renda dos mais capacitados (com mais de 11 anos de escola). Ou seja, o prêmio por ficar mais tempo nos bancos escolares ficou menor, segundo o coordenador de estudos e pesquisas da área de trabalho e renda do instituto, Gabriel Ulyssea.
Porém, isso não significa que não exista espaço para ampliar a qualificação, avalia Ulyssea. Ele cita outro estudo, do centro de pesquisas Conference Board que mostra que a produtividade do trabalhador brasileiro é menor do que a de outros países, ao representar só 18,4% do desempenho médio do norte-americano.
Para o diretor da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Diadema, Donizete Duarte da Silva, isso mostra que o problema é de formação. “Se fosse verdade (que não faltam profissionais bem qualificados), as indústrias estariam no patamar de competitividade com o restante do mundo. Hoje, 40% dos economicamente ativos são analfabetos funcionais. Não há o que comemorar”, afirma.
Pleno emprego
Os números do estudo também não corroboram a ideia de que o Brasil vive em pleno emprego. Segundo Marcelo Neri, presidente do Ipea, a ampliação do mercado de trabalho vem perdendo força nos últimos anos em razão de um aumento de escolaridade.
Nos últimos dez anos, conforme o pesquisador, categorias como construção civil, agricultura, serviços e empregados domésticos vêm diminuindo o número de novas vagas.
Do Diário do Grande ABC