OIT aponta recuperação ‘lenta e incerta’ em 2022 devido à pandemia e estima 207 milhões de desempregados
Relatório aponta mudança estrutural do mercado de trabalho: retorno aos níveis anteriores à crise pode ser insuficiente
“Após dois anos de crise, a perspectiva segue sendo frágil e o caminho da recuperação é lento e incerto”, analisa o diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, sobre a realidade do mercado de trabalho e do desemprego na pandemia. “Já estamos observando danos potencialmente duradouros, junto com um preocupante aumento da pobreza e da desigualdade”, acrescenta.
Em relatório divulgado nesta segunda-feira (16), a OIT lembra que a recuperação da atividade econômica “depende em grande medida do grau de contenção do vírus”. O documento aponta também comportamentos desiguais por região, com perspectivas mais negativas, por exemplo, para América Latina e Caribe. Mas todas enfrentam sérios riscos. “Além disso, essa situação está alterando a estrutura dos mercados de trabalho, de tal maneira que um retorno aos níveis anteriores à crise poderá ser insuficiente para compensar o dano causado.”
Anos difíceis
Dessa forma, com deterioração das expectativas, é provável que os próximos anos também sejam difíceis para grande parte do mundo. A OIT calcula, por exemplo, que o total de horas trabalhadas em 2022 se manterá aproximadamente 2% abaixo do nível anterior à pandemia. Isso corresponde a um déficit de 52 milhões de postos de trabalho em jornada completa (48 horas semanais).
A OIT estima em 207 milhões o número de desempregados neste ano. Um pouco abaixo de 2021 (214 milhões), mas bem acima do período pré-crise, em 2019 (186 milhões). A taxa média de desemprego, segundo a OIT, ficaria em 5,9%, ante 6,2% e 5,4%, respectivamente. O relatório chama a atenção para a tendência de crescimento do trabalho informal em vários países, incluindo o Brasil.
Aqui, por sinal, não se prevê qualquer recuperação significativa. O desemprego atinge em torno de 14 milhões de pessoas, gente fora do mercado e informalidade crescente. A taxa brasileira de desemprego é duas vezes maior que a média mundial. No dado mais recente do IBGE, relativo ao trimestre encerrado em outubro, a taxa média é de 12,1%, com 12,906 milhões de desempregados. A ocupação cresceu 10,2% em 12 meses: o emprego com carteira aumentou 8,1% e o sem carteira 19,8%, enquanto o trabalho por conta própria subiu 15,8%.
Pobreza cresce
“A pandemia levou milhões de crianças à pobreza. E as estimativas recentes sugerem que, em 2020, mais 30 milhões de adultos foram à pobreza extrema (ou seja, viveram com menos de US$ 1,90 dólar por dia), sem trabalho remunerado”, afirma ainda a OIT. “Além disso, o número de trabalhadores em situação de pobreza extrema – que não ganham o suficiente para manter a si próprios e suas famílias – aumentou em 8 milhões. A recuperação assimétrica da economia provoca efeitos em cadeia a longo prazo, em termos de incerteza a instabilidade permanentes.”
A recuperação do mercado de trabalho é mais rápida em países com taxas maiores de investimento, lembra a organização. “Só neste grupo se produziu aproximadamente metade da redução do desemprego mundial entre 2020 e 2022, embora somem em torno de 20% da população economicamente ativa. Por outro lado, desde o início da pandemia, os países com investimentos menores enfrentam recuperação mais lenta”, informa.
Proteção social
Para Ryder, que está em seu último ano de mandato, não pode haver verdadeira recuperação da pandemia sem ampla recuperação do mercado de trabalho. “E, para ser sustentável, deve basear-se nos princípios de trabalho decente, com inclusão de saúde e seguridade, proteção social e diálogo social.”