Ônibus vão sair mais caros da fábrica
Fabricantes de veículos e carrocerias ainda não dimensionaram em quanto o custo será elevado, mas diante da necessidade de testes de ensaios de materiais, alterações nas linhas de montagem e exigências das regras de acessibilidade, há quem imagine aumentos expressivos
A revisão da resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) nº 811, de 1996, que trata das regras para a fabricação de veículos de transporte coletivo, elevará os custos de produção de montadoras e encarroçadores e, por consequência, o preço final de ônibus, vans e microônibus. Fabricantes de veículos e carrocerias ainda não dimensionaram em quanto o custo será elevado, mas diante da necessidade de testes de ensaios de materiais, alterações nas linhas de montagem e exigências das regras de acessibilidade, há quem imagine aumentos expressivos. Por outro lado, existe um consenso entre o governo federal e a indústria de que a nova legislação aproxima as regras brasileiras das europeias.
Na opinião de Paulo Mutterle, engenheiro da Marcopolo, que acompanhou todo o processo de revisão da resolução 811, além das questões de segurança, a nova legislação contemplou aspectos relacionados ao conforto e à mobilidade dos passageiros no interior dos veículos. Entre elas, destacam-se o maior espaço para a circulação de passageiros nos corredores dos veículos e do vão entre os assentos.
No caso das mudanças internas da linha de montagem, Mutterle acredita que, em médio prazo, terá de ocorrer a adaptação em boa parte dos processos e materiais dos modelos de produtos da companhia, que estarão envolvidos no novo enquadramento de resistência estrutural, bem como nos procedimentos de controle e homologação. São alterações como estas que deverão elevar os custos dos produtos.
“Muda a rotina na engenharia e em praticamente todas as demais áreas envolvidas, que terão de realizar várias análises de viabilidade”, acrescentou o engenheiro.
Com a previsão de ser publicada no Diário Oficial da União nos próximos dias, a nova regulamentação será implantada paulatinamente até o fim de 2012, mas alguns requisitos passarão a vigorar de imediato. Um deles, por exemplo, será a inclusão de faixas refletivas para aumentar a visibilidade do veículo, válida também para a frota em circulação hoje no país.
Já em relação às mudanças que podem ser necessárias nas linhas de produção das montadoras, um executivo do setor informou que os impactos serão bem menores que os dos encarroçadores. No entanto, “eventualmente algum fabricante pode vir a ter que mudar a construção de um chassi”, disse.
Até então, não há uma avaliação de consenso de quanto os custos e preços finais vão ser elevados. Mas mesmo o diretor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Alfredo Peres da Silva, em entrevista concedida no início da semana passada, admitiu que os veículos ficarão mais caros e, provavelmente, as vendas mais difíceis.
Neste sentido, o porta-voz ligado às montadoras lembra que a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a melhoria nas condições de financiamentos não tiveram o mesmo efeito que nos automóveis e comerciais leves. “No momento atual, a ordem é corte de custos, o que de certa maneira é compreensível, mas o fato de a nova resolução ter sido aprovada demonstra que não há má vontade da indústria automobilística”, ressaltou.
O fato de a revisão da resolução 811 ter levado seis anos para ser aprovada foi causado por conta de outras demandas do Contran e das empresas neste intervalo, segundo informaram as fontes do setor consultadas pela reportagem.
Do Valor Econômico