Operários chineses em fábrica da BYD na Bahia estariam sofrendo agressões
Uma mulher franzina equilibra uma tábua de madeira atrás do pescoço para carregar, sem perder tempo, dois baldes pesados. Um grupo de seis trabalhadores é transportado até o canteiro de obras em um carro de passeio, com um deles sendo levado dentro do porta-malas. Em um cooler pequeno, daqueles usados para manter a temperatura de cervejas e refrigerantes, é servida uma sopa para centenas de trabalhadores famintos, após uma longa jornada de trabalho.
Agressões físicas, com chutes e pontapés. Alojamentos sujos, aglomerados, mal iluminados e sem divisão entre homens e mulheres. Banheiros imundos, sem limpeza diária das pias e dos vasos sanitários. Operários atuando sem equipamentos de proteção individual, submetidos a rotinas de 12 horas por dia, de domingo a domingo. Todas essas situações, de acordo com denúncias que a Agência Pública recebeu, estariam acontecendo dentro do canteiro de obras da empresa chinesa BYD, que está instalando uma fábrica de automóveis elétricos na cidade industrial de Camaçari, na Bahia.
De acordo com documentos e informações obtidas pela Pública, para a construção da fábrica, a BYD contratou cerca de 470 operários chineses de três empresas de seu país. A reportagem recebeu vídeos e áudios com relatos de agressão enviados por funcionários que pediram para ter suas identidades protegidas. Funcionários entrevistados sob condição de sigilo confirmaram essas denúncias. A reportagem procurou a empresa sobre as denúncias. Em nota, a BYD disse que opera há 10 anos no Brasil “cumprindo rigorosamente as leis locais”. A montadora disse ainda que “as obras da fábrica em Camaçari, na Bahia, atendem todas as normas legais.
No dia 11 de novembro deste ano, a Polícia Federal e o MPT estiveram no canteiro de obras para uma vistoria das condições de trabalho, mas não chegaram a ir aos alojamentos ou percorrer todo o espaço de montagem da fábrica, segundo fontes ouvidas pela reportagem. Questionada sobre a inspeção do MPT, a BYD disse que a vistoria “apontou a necessidade de ajustes pontuais na operação”. E que, as inconformidades já foram identificadas.
Da Agência Pública